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Nesta quinzena, o borrego é “rei” nas mesas do Alto Alentejo

Sousel é a Capital do Borrego. Mas, por estes dias, o bicho é “rei” nas mesas do Alto Alentejo. Aí está a terceira edição da Quinzena Gastronómica Terras do Borrego. Francisco Alvarenga (texto)

Há pratos para todos os gostos, das propostas tradicionais a outras mais inovadoras. Já lá iremos. Antes refira-se que a iniciativa conta com a adesão de mais de uma centena de restaurantes em todo o distrito de Portalegre – pode saber quais são através da página de internet da Capital do Borrego -, havendo alternativas para todas as bolsas, dos restaurantes mais populares aos mais (digamos) sofisticados. O objetivo é o mesmo de sempre: “unir todos os concelhos do distrito à volta de um dos seus produtos endógenos mais apreciados que traça a história e costumes destas comunidades”.

No centro da quinzena está Sousel, de onde saem diariamente toneladas de carne de borrego com destino aos quatro cantos do mundo, sendo também aqui que se encontra localizada a maior exploração de borregos da Europa, com certificação de bem-estar animal. A vila é, por isso, a Capital do Borrego, um dos produtos endógenos mais utilizados na gastronomia alentejana.

Tal como sucede com outras gastronomias regionais, a alentejana é composta por uma ampla variedade de produtos naturais que, pela riqueza e variedade, lhe confere uma simplicidade de sabores únicos. Mas esta altura não há volta a dar, manda a tradição que o borrego esteja presente na boa mesa alentejana, em particular no Domingo de Páscoa.

Assinala o arqueólogo Cláudio Torres que antes da adoção da carne de porco, imposta pela Inquisição, o que predominava na culinária alentejana, em particular durante o período de ocupação árabe, era a carne de carneiro e de borrego, “sobretudo através dos ensopados, cozidos e guisados de todos os géneros”. O seu consumo tem, pois, raízes ancestrais, tendo “não só dominado os gostos e sabores no Alentejo e em todo o Mediterrâneo, como ainda hoje é o manjar mais apreciado e desejado nas festas e aniversários, nos casamentos e batizados, nas romarias e encontros festivos”.

Lembra Cláudio Torres que “os tradicionais ensopados de borrego bem apurados e apaladados com a hortelã e outras ervas aromáticas, são a marca inimitável de saberes passados que de geração em geração atingiram o máximo requinte”.

Nos conventos, sublinha a historiadora António Fialho Conde [“A opção claustral e a tradição gastronómica local e regional”, in “Carta Gastronómica do Alentejo], os pratos de borrego estavam também muito presentes nos diversos receituários. A historiadora cita uma obra manuscrita do padre Manuel de Santa Teresa, no século XVIII, dedicada especialmente aos guisados e dirigida aos “frades conversos franciscanos” do Sul do Tejo.

Para os mais curiosos, a receita é simples e não diverge muito do atual ensopado. Primeiro, claro, há que partir o bicho em pedaços, que se depois se põem a “afogar em hua tigela”, ou seja, cobertos de água. Depois de limpo, o borrego vai ao lume com “sebola e salsa picada, azeite ou manteiga, vinagre e humas cabesas de alho inteiras e também em lugar de azeite ou manteiga se lhe deita toucinho derretido, e pimenta, cravo, gengibre, noz-moscada, asafrão, tomates, sal”. Segundo Manuel de Santa Teresa, o caldo poderia ser engrossado – “se o quizerem enxuto lhe podem deitar gemas de ovos com huns pos
de farinha” -, indo à mesa servido “com fatias [de pão] por bayxo”.

Classificada com Indicação Geográfica Protegida (IGP), a carne de Borrego do Nordeste Alentejano provém de borregos filhos de ovelhas da raça Merino Branco, quer em linha pura, quer cruzadas com raças melhoradas.

A memória da criação de ovinos da raça Merino Branco nesta região perde-se nos tempos. Com efeito, os dados históricos disponíveis permitem a vários investigadores assegurar ser essa criação anterior à formação da nacionalidade. Ao longo dos séculos esta raça tem vindo a ser criada de forma tradicional, extensiva, em harmonia com os montados, pastagens e culturas cerealíferas da região – prática que subsiste, praticamente inalterada, até aos nossos dias. O resultado é uma carne tenra e suculenta, que poderá ser saboreada nesta Quinzena Gastronómica, a decorrer até ao próximo dia 7 de abril.

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