Segundo fonte da Câmara Municipal de Estremoz, a campanha “será acompanhada por outras atividades, nomeadamente saí- das de campo para prospeções arqueológicas no âmbito do projeto Carta Arqueológica do Concelho de Estremoz”.
Os trabalhos de escavação estarão divididos em duas quinzenas e contam com a participação de voluntários locais, estudantes universitários nacionais e estrangeiros, bem como profissionais da área. Cada equipa é composta por um máximo de seis elementos: cinco alunos de Arqueologia e um de Conservação e Restauro.
“Face aos resultados obtidos nas campanhas anteriores, estabeleceu-se que os trabalhos de 2025 darão continuidade aos iniciados em 2023, com a expansão da área de escavação, essencial- mente para a vertente sul”, indicou a mesma fonte.
A organização é conjunta entre o Departamento de História da Universidade de Évora e a autarquia estremocense, que desde junho de 2021 detém competências diretas sobre as ruínas de Santa Vitória do Ameixial.
O Município sublinha que tem “o dever de preservar e valorizar as memórias materiais, físicas e imateriais relacionadas com o sítio arqueológico e com os trabalhos aí realizados”, tendo como principal foco “potenciar o valor patrimonial” desta villa romana, que tem todas as condições para voltar a ser um sítio de referência a nível regional e nacional”.
Localizado na freguesia de Santa Vitória do Ameixial, concelho de Estremoz, o sítio arqueológico onde decorrem as campanhas de escavação corresponde a uma antiga villa romana com ocupação entre os séculos I e V d.C. Trata-se de um complexo implantado num ponto elevado da paisagem, com ampla visibilidade sobre a envolvente, o que poderá indicar a sua relevância no contexto rural romano do Alto Alentejo.
De acordo com o relatório das campanhas anteriores, coordenadas pelo Departamento de História da Universidade de Évora, foram identificadas estruturas de grande interesse, como compartimentos com pavimentos em opus signinum, vestígios de mosaicos, tanques de armazenamento e sistemas de canalização. Estes elementos testemunham, segundo os investigadores, “a sofisticação técnica e o grau de conforto associados à vivência rural romana”.
De acordo com o arqueólogo André Carneiro, a villa de Santa Vitória do Ameixial, escavada sobretudo entre 1915 e 1917, “era uma grande residência romana, rural, ligada à exploração do território, à exploração agrícola e pecuária”.
Por isso, refere, “deverá ter estábulos, lagares, celeiros, armazéns, todas essas unidades à volta da produção agrícola, mas era também uma residência de campo, de alguém que muito pro- vavelmente viveria numa cidade”. Dessa área residencial haverão de surgir mosaicos, sendo que já foram encontradas esculturas e as termas.
Como unidade integrada na província da Lusitânia, a villa destaca-se pela divisão funcional clássica — pars urbana (resi- dência senhorial com mosaicos nobres), pars rustica (habitações e armazéns para trabalhadores e escravos) e pars frumentaria (instalações para produções agrícolas como lagares e celeiros) — ilustrando, assim, a fusão das práticas agrícolas mediterrânicas e a estrutura socioeconómica do império romano.
Entre os vestígios recolhidos contam-se vários mosaicos poli- cromáticos, como o célebre “Mosaico de Ulisses”, originário das termas do século III–IV d.C. e atualmente depositado no Museu Nacional de Arqueologia.
Fotografia | Arquivo/D.R.