Nova estirpe da “língua azul” ataca rebanhos e provoca morte de animais

Nova estirpe da febre catarral ovina alastrou do Alentejo Central a toda a região. Produtores pecuários queixam-se de “prejuízos elevados” devido à morte de muitos animais
e querem que as vacinas sejam pagas pelo Estado, à semelhança do que sucede noutros países.
Ana Luísa Delgado (texto)

Agricultor e dirigente da Associação de Criadores de Gado de Estremoz (ACORE), Pedro d’Orey Manoel já sente os prejuízos causados pelo vírus da “língua azul” que está a atacar os rebanhos de ovinos em toda a região. “Já me morreram cerca de 30 ovelhas e alguns borregos com este novo serotipo da língua azul”, diz o agricultor, que acompaha os pedido de ajuda feitos ao Governo por outros agricultores da região.

A doença está espalhada por todo o Alentejo. “Para falar só no concelho de Estremoz, tenho conhecimento de mais dois ou três produtores a quem morreram muitos animais, que perderam mais de 10% do efetivo devido à língua azul”, diz Pedro d’Orey Manoel, revelando que o denominado “serotipo 3” da doença é “muito mais virulento” que os anteriores.

“Com os serotipos 1 e 4 os animais ficavam infetados, mas nós conseguíamos tratá-los. Este é muito mais virulento e violento, mata mesmo os animais e em grande escala”, acrescenta o dirigente associativo, sublinhando que os animais infectados “já não podem ser vacinados”, o que agrava o problema. “Precisávamos de apoios pois está-nos a morrer uma boa parte do efetivo e não podemos fazer deslocação de animais”, lamenta.

Ainda de acordo com Pedro d’Orey Manoel, todo o comércio de gado está a ser “profundamente afetado”, uma vez que está proibida a deslocação de animais para fora das zonas afetadas pela doença. Pior: “Os borregos não estão a crescer como deveriam e, portanto, não há realização de dinheiro por parte dos agricultores, o que traz dificuldades acrescidas para as explorações”.

Embora podendo afetar igualmente bovinos e caprinos, o vírus da febre catarral ovina, também conhecida como “língua azul”, atinge em particular os rebanhos de ovinos. Tudo indica que este serotipo tenha chegado à Europa através de insetos arrastados pelo vento a partir do Norte de África, tendo esta nova estirpe da “língua azul” encontrado condições para se expandir, por força das alterações climáticas. Os primeiros focos desta varianteforam registados “com grande intensidade” no Alentejo Central, rapidamente tendo alastrado a toda a região, que está atualmente confrontada com o problema.

“É uma doença de declaração obrigatória que, quando confirmada na exploração, implica um impedimento da movimentação animal durante 60 dias, o que se revela muito penalizador do ponto de vista económico”, lembrou a Federação de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), acrescentando que, por isso, existe “uma clara subnotificação da doença, constatando-se que o número real de rebanhos afetados está muito longe de cor- responder ao número de casos comunicados aos serviços veterinários oficiais”.

Os agricultores falam em “prejuízos muito consideráveis” nas explorações pecuárias, onde a morte de animais aumentou “mais de 50%” face ao período homólogo do ano passado, a que acresce a existência de um elevado número de animais doentes, “que deixam de produzir”, e os custos “elevados” dos tratamentos médico-veterinários.

Por outro lado, os custos para a aplicação da vacina “são muito elevados”, e “estão a ser suportados integralmente pelos produtores, ao contrário do que acontece em outros países comunitários, como por exemplo em França e em Espanha, onde o Estado suporta na íntegra a aquisição da referida vacina”.

Conforme noticiado pela Alentejo Ilustrado, numa carta enviada ao ministro José Manuel Fernandes, os responsáveis da FAABA lembram “a relevância da ovinicultura na estruturação e na economia dos territórios, nomeadamente nas zonas do interior, mais frágeis do ponto de vista social e económico”.

“TRATAMENTO IGUAL”

Os agricultores alentejanos exigem ser tratados em situação de “igualdade” com o de outros países, designadamente França e Espanha, onde as vacinas contra a nova estirpe da doença são pagas pelo Estado, sendo a vacina essencial para combater “o potencial destrutivo desta nova crise sanitária”.

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