Núcleo de Estremoz da Liga dos Combatentes quer centro de apoio

O núcleo de Estremoz da Liga dos Combatentes prepara-se para assinalar, em novembro do próximo ano, o seu primeiro centenário. Para o presidente do núcleo, Jorge Carujo, a festa só ficará completa se for possível encontrar uma nova sede e abrir um centro de apoio médico, psicológico e social aos antigos combatentes, muitos deles “com traumas psicológicos e problemas físicos”. Mariana Miguéns (texto)

A Liga dos Combatentes, inicialmente denominada Liga dos Combatentes da Grande Guerra, fundada em 1823 continua a desempenhar um papel vital no apoio aos veteranos e na preservação da memória histórica de Portugal. Após a Grande Guerra [1914-1918], os combatentes, animados por um espírito de fraternidade, sentem o dever de se juntar para defenderem os seus interesses e ajudarem os inválidos de guerra, as viúvas e os órfãos. 

Nos seus primeiros anos a Liga esteve focada na prestação de apoio e auxílio aos combatentes e às suas famílias, quer seja na atribuição de subsídios e pensões até, pagamento de funerais. A memória dos combatentes falecidos também não foi esquecida, sendo a instituição responsável por promover as comemorações do Dia do Combatente, em 9 de abril, e do Dia do Armistício, em 11 de novembro, como também a criação de lugares de memória. 

É da necessidade de apoio local que surgem os Núcleos da Liga dos Combatentes. Atualmente são 116, espalhos pelo país. Um dos mais antigos é o de Estremoz, fundado a 11 de novembro de 1925 pelo capitão de cavalaria Altino Aníbal Gromicho com o principal objetivo de homenagear os mortos pela pátria e prestar auxílio aos sobreviventes bem como as suas famílias. Em 11 de novembro de 1981 é inaugurada a sede que se mantém até hoje, situada na porta de Santa Catarina. 

Sentamo-nos e conversamos com Jorge Carujo, atual presidente da direção do Núcleo, que nos explicou melhor como funciona este espaço. O núcleo conta com quatro categorias de sócios, os antigos combatentes, os militares efetivos, as viúvas e familiares de antigos combatentes e os sócios apoiantes. 

“Acho que pouca gente sabe e isso é importante frisar, que qualquer pessoa pode ser sócia da Liga, não precisa ser antigo combatente ou familiar de algum… qualquer cidadão que queira pode apoiar a nossa Liga, tanto ser só- cio quanto ser voluntário, pois o núcleo vive de voluntários”, refere Jorge Carujo, sublinhando que a motivação de todos não é monetária, antes a constatação da “falta de apoio a esta geração, essencialmente sos combatentes do Ultramar que sofrem em silêncio, sofrem sozinhos”. 

Apesar dos recursos limitados, o trabalho do núcleo é notório, sendo promovidos passeios, encontros e celebrações que aproximam estes combatentes uns dos outros. A atual direção, refere, priorizou homenagear estes antigos combatentes “que se sentem esquecidos, que foram obrigados a participar numa guerra que não queriam, em condições que ninguém imagina”. 

Um dos projetos é a mudança de sede para um “local com melhores condições e onde seja possível ele abraçar um novo projeto”. A Liga dos Combatentes possui a nível nacional vários centros de apoio médico, psicológico e social, onde há psicólogos e médicos disponíveis a ajudar os antigos combatentes. “A ideia da direção é criar um espaço onde seja possível receber estes médicos”, refere o presidente, recordando que o núcleo está atualmente a levar os sócios ao centro de ajuda em Évora. “Achamos fundamental criar o nosso espaço aqui, o nosso sonho é inaugurar, no 100o aniversário, uma nova sede com gabinetes médicos. Seria um grande feito. Eu diria mesmo que já poderia dormir descansado”. 

“Se tudo correr bem”, acrescenta Jorge Carujo, “acabamos o mandato com nova sede e gabinetes médicos. Mas o mais preocupante é quem nos sucede, preocupamo-nos muito com esse assunto porque é difícil encontrar voluntários, é difícil encontrar pessoas para trabalhar sem receber remuneração, mas é importante continuar com este trabalho, esta geração do Ultramar encontra-se agora na casa dos 80 anos, há muitos que vivem sozinhos, com traumas psicológicos e problemas físicos e é fundamental apoiá-los”. 

Lembrando que “há coisas que o dinheiro não compra”, o presidente do núcleo refere já ter feito várias cerimónias, embora uma continue por realizar: “Prestar homenagem, na minha terra, Santo Amaro, Sousel, aos 144 combatentes da guerra do Ultramar. Para mim não há dinheiro que pague as histórias que eu ouvi, as caras que vi, daqueles homenageados e das suas famílias, que todos os dias os vêem sofrer em silêncio”.

TRAUMAS DE GUERRA 

Estão calculadas em 10 mil as mortes de militares do Corpo Expedicionário Português que combateu na I Guerra Mundial. O número de feridos foi muito superior, desde logo se atendermos a que a participação portuguesa no conflito envolveu a mobilização de quase 200 mil homens. A Liga dos Combatentes é criada cinco anos depois do fim da guerra, primeiro para reunir militares e ex-militares portugueses que combateram na Flandres. 

Depois, para prestar apoio aos militares que participaram na Guerra Colonial. Um estudo de 2021, elaborado por Pedro Marquês de Sousa (Universidade Nova de Lisboa), revela que mais de 10 mil portugueses perderam a vida nas três frentes de guerra em África (Angola, Guiné e Moçambique), entre 1961 e 1974, a que se somam mais de 45 mil vítimas entre civis e militares desses países. No contingente português somaram-se mais de 30 mil feridos. 

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