Desejar um ano melhor do que o que terminou é um clássico da boa educação. Mas, e os que pouco ou nada têm para mudar, para quem o virar da página do calendário é só mais um dia?
Para esses, antes de mais, vai a minha solidariedade. Não é um desejo de magia, mas uma vontade elétrica: continuar a ajudar, sem alaridos, os que pedem um pouco do nosso tempo ou da nossa boa vontade. Muitas vezes, basta o nosso conhecimento, a experiência ou a disponibilidade para abrir portas. É simples, mas valioso.
Os problemas são variados e, muitas vezes, não exigem mais do que estarmos disponíveis para ouvir, refletir e encontrar soluções. No entanto, parece que somos pobres na arte de nos solidarizarmos. O Natal chega e lá vamos nós com um quilo de arroz ou um litro de leite. O Banco Alimentar, a Cáritas, a Liga Contra o Cancro mobilizam-nos. Fazemos o que pedem, mas só porque pedem. Somos reativos, limitamo-nos a esperar que nos despertem para a solidariedade, como se 90% do ano não existisse.
Vivemos numa redoma, fechados no nosso mundo, até que chega o ciclo de sempre. Os problemas mantêm-se, as pessoas continuam a precisar, mas a nossa resposta nunca passa de remendos. Apostamos na aparência, no espetáculo da atitude, e não na solução. Tornamo-nos especialistas em exibir gestos solidários que alimentam o ego, enquanto ignoramos a raiz dos problemas.
Tanto nos orgulhamos da nossa capacidade de “gestão” que criámos até uma nova classe social: os pobres que trabalham. Não importa se dormem numa estação, numa tenda ou num colchão improvisado. “Ao menos contribuem”, devem pensar os decisores.
Enquanto isso, brindamos aos números do PIB, das contas públicas e da Segurança Social, como se fossem a panaceia. Dizem-nos que “está tudo no bom caminho” e que “isto é economia”. Mas a verdade é outra: a solidariedade social é pouco eficiente e raramente eficaz. No final, o que temos é má gestão, falta de vontade e uma cristalização da incompetência.
Ser político eleito devia ser sinónimo de trabalho árduo, presença no terreno e responsabilidade em fazer acontecer. Mas, pelo contrário, é muitas vezes só propaganda.
Falam de social-democracia como se fosse um slogan: solidariedade, inclusão e prosperidade. Mas a social-democracia não se apregoa. Cumpre-se. Apenas isso.