Nuno Mourinha: “Jangada de Pedra”

A opinião de Nuno Mourinha, arqueólogo e diretor do "Brados do Alentejo"

A candidatura de Gouveia e Melo à Presidência é um enigma. Nada se sabe sobre as suas ideias para o país. No en- tanto, é apontado como favorito. A farda tem poder. A comunicação social ajuda.

O almirante ficou conhecido pelo plano de vacinação. Foi competente, é verdade. Mas não fez tudo sozinho. Houve milhares de pessoas envolvidas. Civis, militares, autarquias e Governo trabalharam em conjunto. Reduzir este feito a uma só figura é simplista.

Portugal adora heróis. Desde D. Sebastião que temos esta fraqueza. Esperamos sempre um salvador que resolva tudo. “ Mas a realidade é menos poética. Os verdadeiros heróis são os que sobrevivem com salários miseráveis. Que se levantam de madrugada para apanhar transportes. Que voltam a casa exaustos.

Um militar em Belém é voltar atrás no tempo. Eanes foi uma exceção. Cumpriu porque pensava por si. Não se questiona o valor dos militares, porém a liderança política requer mais do que disciplina e autoridade – exige reflexão, visão, estratégia e, sobretudo, experiência em governar algo além de uma fragata.

Gouveia e Melo tem um problema adicional: o apoio do Chega. Como conciliará a sua história com um partido que acolhe negacionistas? Durante a pandemia, enfrentou ataques desses mesmos grupos. Aceitará agora o apoio de quem tentou boicotar o seu trabalho?

Portugal não é um submarino. Mas também não deve transformar-se numa jangada de pedra, à deriva no Atlântico, sem rumo ou liderança. O país precisa de mais do que uma figura austera. Precisa de alguém que o compreenda e o conduza. E, acima de tudo, de alguém que não dependa apenas do nevoeiro para se manter à tona.

Não precisamos de novos “Eanismos” nem de sebastianismos. Portugal não é um submarino – mas, com decisões erradas, pode bem afundar.

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