Nuno Mourinha: “T1 a 500 mil, salários a 500”

A opinião de Nuno Mourinha, arqueólogo e diretor do "Brados do Alentejo"

Portugal tornou-se o paraíso dos prémios de arquitetura e dos famosos chefs. Adoramos ver edifícios de luxo a ganhar distinções internacionais, T1 a custar 500 mil euros e bairros inteiros a encherem-se das mais diversas línguas. E os portugueses? Por cá estão. Entre os que tentam sobreviver com rendimentos de 591 euros por mês. E sim, na sua maioria, estão empregados. Porque pobreza e trabalho, no nosso cantinho, são duas faces da mesma moeda. Um fenómeno que atinge cerca de 10% da nossa população. 

Na semana passada, os números saíram e o ciclo repetiu-se: Uma breve onda de indignação, redes sociais ao rubro, e voltámos todos às nossas vidinhas. Contudo, os números não se dissipam: A taxa de risco de pobreza subiu, pela primeira vez em sete anos, para 17%, traduzindo-se em quase dois milhões de portugueses em dificuldades financeiras. E não, o problema não é a falta de emprego – é a falta de rendimentos dignos. 

A habitação duplicou de preço desde 2015, enquanto os rendimentos dos trabalhadores subiram apenas 35%. Contas simples, não é? Pois bem, é isto que nos torna mais pobres. Mas estamos encantados com o sucesso turístico, com os prémios de arquitetura e com o capital estrangeiro. Enquanto isso, pagamos mais impostos, temos um custo de vida acima da média europeia para necessidades básicas e registamos um dos salários mais baixos da União Europeia. 

Na hora de discutir o Orçamento do Estado, entre diretos e opiniões fervorosas, lá vamos nós para 2025, sem grandes alterações, quase resignados a esta pobreza, como quem se resigna a uma chuvada de inverno. E a solução? Talvez, antes de mais, seja admitir que somos um país pobre. 

A DECO revelou recentemente: Em média, cada família portuguesa tem sete créditos. Não só para comprar casa ou carro, mas para as despesas quotidianas. O problema não é falta de dinheiro no país, é como ele é distribuído. 

Somos um país de pobres, e sejamos sinceros: não devíamos ser. Afinal, temos empresas que dão cartas, marcas que brilham lá fora e pessoas que são do melhor que há nas suas áreas. Mas, apesar de tudo isso, continuamos na cauda da Europa. E se esta realidade não nos põe a pensar – e a exigir mais do poder político – então o que mais será preciso? Um prémio para o país com o maior número de talento desperdiçado? 

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