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Ópera assinada pelo neto de Humberto Delgado no Garcia de Resende

A estreia foi no Teatro de São Luiz, em Lisboa, no início de maio. Agora, “Felizmente há Luar”, a ópera encomendada pela Orquestra Filarmónica Portuguesa (OFP) ao compositor Alexandre Delgado, neto do general Humberto Delgado, vai subir ao palco do Teatro Garcia de Resende. Será no próximo dia 1 de junho, às 21h30.

“Felizmente Há Luar”, de Luís de Sttau Monteiro, é uma peça fundamental do teatro português do século XX, que retrata a resistência contra a ditadura do Estado Novo e a censura cultural. Inspirada na conspiração de Gomes Freire de Andrade contra a dominação inglesa, na primeira metade do século XIX, faz uma alegoria à ditadura salazarista, apresentando questões universais sobre liberdade, poder, coragem e resistência. 

Escrita em 1961, a peça é um testemunho intemporal da luta do povo português pela liberdade e justiça. A encomenda de uma ópera para assinalar a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 partiu da Orquestra Filarmónica Portuguesa. A escolha recaiu no compositor Alexandre Delgado, que propôs especificamente esta peça, aqui chegando depois de ter recusado outros convites. 

“Quando o saudoso Joaquim Benite encenou a minha ópera ‘A Rainha Louca’, em 2011, lançou-me um desafio: queria que eu compusesse uma ópera sobre o meu avô, Humberto Delgado. Mas eu disse-lhe que não era capaz, por ser um assunto demasiado pessoal”, refere Alexandre Delgado, lembrando que tinha “cinco meses de gestação quando a minha mãe soube que o pai dela tinha sido assassinado”. Morto pela PIDE numa emboscada na próximo da localidade espanhola de Villanueva del Fresno, junto à fronteira com Portugal. 

“Em 2022”, acrescenta Alexandre Delgado, “o maestro Osvaldo Ferreira lançou-me outro desafio: compor uma ópera sobre o 25 de Abril”. Também aí ficou “de pé atrás”, agora “por achar o tema pouco operático e por não querer compor para uma comemoração oficial”. Lembrou-se então de uma outra peça, “que podia fazer todo o sentido”, o “Felizmente há Luar”, de Sttau Monteiro.

“Uma peça sobre a figura histórica do general Gomes Freire, condenado à morte em 1817, nos últimos estertores do regime absolutista. Publicado em 1961, o texto de Luís de Sttau Monteiro era uma metáfora tão evidente do Estado Novo sacudido pelas eleições de 1958, que até os obtusos censores salazaristas a perceberam. Proibida, a peça só pôde ser representada em Portugal depois da Revolução”, explica Alexandre Delgado. “E foi assim que esses dois temas, que antes recusei, me vieram parar às mãos de forma metafórica. Que é como quem diz: operática”.

Trata-se não é apenas uma celebração artística, mas também uma “homenagem à revolução que restaurou” a democracia em Portugal. “A obra já impregnada de temáticas de resistência e luta pela liberdade, adquire assim uma ressonância ainda mais profunda ao ser invocada neste contexto. Trata-se de uma primeira adaptação para o mundo da ópera, fazendo-se assim justiça a um texto maior na literatura teatral portuguesa”, refere a produção.

Com música e libretto de Alexandre Delgado, encenação de Allex Aguilera e direção artística e musical de Osvaldo Ferreira, a ópera conta, no elenco, com as sopranos Sílvia Sequeiro e Raquel Mendes, o barítono Tiago Amado Gomes e o tenor Carlos Guilherme, aqui no papel de Principal Sousa, entre outros.
Nascido em Lisboa em 1965, Alexandre Delgado foi aluno de Joly Braga Santos e de Jacques Charpentier, tendo-se diplomado com o 1.º prémio de composição do Conservatório de Nice (1990). 

É autor da ópera de câmara “O Doido e a Morte”, baseada na farsa de Raul Brandão, (encomenda de Lisboa 94 Capital Europeia da Cultura), cuja estreia dirigiu no Teatro Nacional de S. Carlos. Entre as suas obras, destacam-se o “Concerto para viola e orquestra” (Festival de Coimbra, 2000), “Tresvariações” (Fundação Gulbenkian, 2001) e “Poema de Deus e do Diabo” (Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, 2002), entre outras.

Fotografia: ©José Frade

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