Os Monda, celebram 10 anos de paixão pela música, entre o folk e a pop

O projeto que nasceu de forma quase “espontânea” está a fazer 10 anos. Uma celebração maior que incluirá concertos com bandas filarmónicas e o lançamento de um disco, eventualmente de vinil, para marcar a primeira década do grupo. Júlia Serrão (texto)

Quando Jorge Roque gravou um trabalho a solo e convidou alguns músicos para o acompanharem em palco, entre eles estavam Herlander Medinas (Der, como é conhecido) e Pedro Zangalo. Foi durante um dos ensaios desse projeto que a ideia de criar um grupo musical nasceu “de uma forma um pouco espontânea”, ainda em 2014.

“A coisa resvalou, um bocadinho por brincadeira, para um tema do cancioneiro alentejano, no caso O Mocho, e a coisa resultou de forma tão evidente para nós, em termos sonoros, que nos pareceu simultaneamente engraçado e muito interessante pegarmos no cancioneiro tradicional e fazer uma desconstrução do mesmo”, conta Jorge Roque.

Daí nasceu também a denominação do grupo: Monda, “roubado” ao vocabulário agrícola. A escolha do nome foi também consensual, com a certeza de que era o que estavam a fazer: “Deixar aquilo que não nos interessava do cancioneiro alentejano, que é riquíssimo tanto em termos líricos como em termos musicais, e retirar aquilo que para nós fazia sentido”, observa.

Ainda assim, estão “longe” de ser “um grupo ou o que quer que seja do Alentejo”, nota, para frisar: “Mas estas são as nossas raízes, e pegando nessas raízes, nós, que percorrermos áreas musicais bem diferentes, do jazz ao clássico, fizemos este trio”.

Em maio de 2015, o grupo estava oficialmente formado e começava a gravar em estúdio, construindo a partir daí a sua própria sonoridade. “Sabemos que é própria, que muitas vezes não é óbvia para todos, mas esse também é o nosso caminho, a nossa intenção”, comenta Jorge Roque. Aproximando-se das novas tendências musicais, o projeto Monda mistura a tradição e a modernidade, criando a fusão do folk e do pop.

Recentemente, os três músicos começaram a produzir “alguns originais”, sendo o último single Três Passos, exemplo do repertório em nome próprio, letra e música. Não têm uma fórmula “por hábito” para criar: um lança um tema, os outros fazem os arranjos, e no tema seguinte pode acontecer trocarem. “Outras vezes, há sonoridades e há músicas que vamos construindo, e depois há letras e recolhas populares que se adaptam a essas músicas. Há um misto de coisas. E dá-nos prazer essa parte de deixar um tudo em aberto… as coisas vão acontecendo”.

O tema Adeus Maria Até Quando, gravado com Katia Guerreiro no primeiro disco do grupo, surgiu de uma recolha oral na vila de Portel. “Não tinha música, é uma lengalenga que as raparigas da região diziam quando um rapaz partia para a guerra”. É o tipo de temas que gostam de trazer para o cancioneiro, tendo este ficado, assume, “particularmente bonito”. É um dos mais pedidos sempre que tocam em palco, nos concertos que fazem pelo país inteiro, e nas diversas rádios.

Através da tecnologia, os elementos do grupo vão partilhando “ideias praticamente em tempo real”, pois vivem em localidades diferentes: o Jorge em Portel, o Pedro em Vendas Novas, e o Der no Montijo. Mas estão muitas vezes juntos pois, para além da música, construíram uma “amizade forte e familiar”. Alguns temas do repertório “têm sido feitos em reuniões familiares”, em almoços ou jantares, pois há sempre uma guitarra ou um piano por perto. “É engraçado porque não há um trabalho igual, uma metodologia idêntica para estas coisas da criatividade”, comenta.

O público, esse, é muito variado, ou pelo menos é essa a perceção dos três: situa-se acima dos 35 anos. Depois, “curiosamente”, há uma faixa com menos de 20 anos“que também gosta” de ouvir os Monda. Sem qualquer estudo onde basear-se, Jorge Roque conclui: “Diria que tem a ver com o nosso tipo de som, que eu sei que para algumas pessoas pode não encaixar, e também com as letras que talvez não digam nada aos adolescentes, que estão na altura dos namoricos e das descobertas”.

Em alguns momentos, confessa, ponderaram fazer um tema que pudesse chegar a esta faixa, mas desistiram. “Seria desvirtuar” a identidade e a marca do grupo. “Não faz sentido. Nenhum de nós depende exclusivamente da música. Nós fazemos música por paixão, porque nos dá um prazer enorme cantar e tocar em palco, e partilhar com o público. Quando há uma lógica só de negócio é um bocadinho como o futebol, já deixa de ser arte para ser outra coisa”, desabafa.

De momento, os Monda já preparam o aniversário. Irá haver alguns concertos com bandas filarmónicas, por exemplo, com convidados, e eventualmente o lançamento de um novo disco para “assinalar” os 10 anos de existência. Até lá, e ao longo dos meses, pensam ir lançando digitalmente alguns temas “nessa perspetiva”. O lançamento do disco em vinil e um CD, embora muito desejado, ainda está a ser estudado pois, lamenta, o mercado da venda de discos estagnou.

“Há um público que tem de ser estudado, tem de se perceber melhor quem consome a nossa música, e se faz sentido termos esse disco físico”, nota Jorge Roque, sublinhando que para o grupo “faz todo o sentido”, pois é um registo que fica “eternizado”.

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