No regresso dos governantes à maior feira agrícola do Sul – o ano passado, por exemplo, nem o primeiro-ministro, António Costa, nem a então ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes foram convidados -, Luís Montenegro referiu que em 2014 o défice da balança alimentar era de 1148 milhões de euros, tendo o ano passado chegado aos 3647 milhões.
As importações portuguesas do sector, resumiu, são agora “três vezes mais” que as importações. Para reduzir este saldo, defendeu aposta na valorização do “potencial natural da agricultura” para que o país possa alcançar uma maior soberania alimentar: “Temos um país com grande potencial do ponto de vista territorial, agricultores que têm conhecimento, capacidade, tecnologia e vontade e temos um mercado que podemos alimentar com os nossos próprios recursos, quer europeu, quer nacional”.
Segundo Luís Montenegro, o crescimento da atividade agrícola não é incompatível com a proteção do ambiente. “É possível, ao mesmo tempo, termos sustentabilidade ambiental e estarmos na linha da frente dos objetivos da transição ecológica e termos economia, produtividade, capacidade de conquistar mercados e de importar menos e exportar mais”, sublinhou o primeiro-ministro, num discurso onde admitiu “o sentimento de injustiça” dos agricultores face às novas regras da Polícia Agrícola Comum (PAC).
“Impomos a nós próprios regras de tal maneira restritivas, mas, depois, deixamos que os nossos consumidores possam ter nas prateleiras produtos que vêm de outras geografias onde essas regras não são impostas”, disse o primeiro-ministro.
Esta foi, aliás, uma crítica feita por milhares de agricultores europeus que no início do ano organizaram manifestações de protesto em diversos países, levando a corte de estradas. “Somos nós que estamos a pagar pelo desrespeito das regras ambientais e a prejudicar a nossa própria saúde, por via das nossas ações. Não faz sentido e é preciso atalhar este problema com coragem no país e na Europa”, insistiu Luís Montenegro, recusando estar a defender medidas “protecionistas” para o sector. Trata-se, acrescentou, de uma questão de “justiça no comércio internacional, regras de compromissos no mercado internacional e uma consciência de equilíbrio”.