Palácio ocupado por Al Berto na década de 70 está à venda na internet

A casa onde o poeta Al Berto se instalou em Sines, em 1975, está em ruína e foi colocada à venda numa agência imobiliária da Caixa Agrícola, por 430 mil euros. O cineasta Vicente Alves do Ó critica o dinheiro “mal gasto” e “desbaratado” naquele edifício, para onde chegou a ser projetada a instalação da Biblioteca Municipal.

Verão de 1975: depois de uns anos em Bruxelas, o poeta Al Berto regressa a Sines e instala-se no palácio da família, onde ensaia uma vida de comunidade. A década e meia seguinte é passada entre Sines e Lisboa, repartindo o tempo dedicado à poesia com atividades como as de editor, de livreiro e de animador cultural. Foi nestas funções que trabalhou na Câmara Municipal de Sines e dirigiu o Centro Cultural Emmerico Nunes, na década de 80.

A casa onde se instalou, conhecida como Palácio Pidwell está agora a ser vendida pela Caixa Agrícola pelo valor de 430 mil euros. “Trata-se de um imponente Palácio, mandado construir por Charles Pidwell, que veio residir para Sines no princípio do século XIX, que reflecte influências diversas, dentro do gosto ecléctico popular ao redor de 1900, numa síntese com soluções tradicionais da arquitectura tradicional portuguesa”, informa a mediadora da entidade bancária, referindo uma área total de construção superior a 1400 metros quadrados.

“Pensava que este assunto estava no bom caminho e que em breve poderia ser uma casa-museu dedicado ao poeta Al Berto e quem sabe, uma residência para poetas do mundo. Enganei-me. É  uma ruína.  Uma verdadeira ruína, como tudo o que não  seja Vasco da Gama”, critica o cineasta Vicente Alves do Ó, realizador de uma longa-metragem sobre os anos de Al Berto na cidade. Há três décadas, chegou a estar projetada para aquele edifício a instalação da Biblioteca Municipal de Sines.

Num texto publicado na sua página de Facebook, Vicente Alves do Ó refere “que o dinheiro mal gasto que ali foi desbaratado, teria dado para reconstruir este espaço como Biblioteca Municipal, reconstruir a magnífica Esplanada Alentejana, marco indelével de arquitectura nacional, o Centro Recreativo, o Palácio  de Santa Isabel  e construído uma sala de espectáculos que Sines continua a não ter, apesar da sua tradição teatral e Companhia com mais de 40 anos”.

Na descrição que faz do imóvel, a imobiliária anota nos interiores “reina uma total austeridade, com paredes estucadas e pintadas e tetos com forros de madeira em ‘saia e camisa’, destacando-se apenas o teto estucado da sala térrea, corresponde aos modelos vulgares da época, tendo sido construída à imagem de uma casa já existente em Penzance, a Morrab House’, hoje uma biblioteca pública”.

“Sines”, escreve ainda Vicente Alves do Ó, “Sines “vive a pior de todas as fantasias. Chega-lhe ter tido um filho da terra [Vasco da Gama] que há 527 anos inaugurou um império que daria início ao infame negócio da escravatura negra. Bravo”.

Partilhar artigo:

ASSINE AQUI A SUA REVISTA

Opinião

BRUNO HORTA SOARES
É p'ra hoje ou p'ra amanhã

PUBLICIDADE

© 2025 Alentejo Ilustrado. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.

Assinar revista

Apoie o jornalismo independente. Assine a Alentejo Ilustrado durante um ano, por 30,00 euros (IVA e portes incluídos)

Pesquisar artigo

Procurar