O grafite é uma forma de expressão artística urbana que envolve diversas formas de pintura de imagens ou palavras em superfícies públicas, como paredes, muros ou edifícios. Embora a história desta arte urbana possa ter raízes antigas, o grafíti moderno evoluiu significativamente ao longo das últimas décadas. É uma forma de arte controversa, muitas vezes interpretada como um ato de vandalismo, mas também amplamente reconhecida como uma expressão criativa e uma forma importante de intervenção social.
É esta paixão que move Davide Alves, de 39 anos. Nascido e criado em Estremoz, Davide confessa que descobriu bem cedo a sua paixão pelas artes em geral, mas em específico pelo grafíti. “Sempre gostei de desenhar, desde muito novo, desenhava no papel, a preto e branco a caneta… até aos meus 13 ou 14 anos só desenhava assim. No secundário, escolhi artes porque queria ser arquiteto, depois desisti, percebi que não era o que gostava e foi aí que comecei a pensar mais no grafíti e a fazer mais experiências”.
Na Universidade em Évora estudou artes visuais, incluindo pintura clássica e outras disciplinas onde trabalhou outras técnicas como pintar em telas, mas o que gostava mesmo… era de outra coisa. “Passei logo do papel para a parede, acho que o que me fascinou pelo grafíti foram as latas, as tintas, a parte de pintar, usar cor não desenhar apenas a preto e branco”.
A nível de aprendizagem desta arte, refere Davide Alves, não existe quase formação, pois ainda é uma vertente relativamente recente. Desta forma, “para entrar num cenário académico é preciso haver história e só agora é que nós estamos a criar essa componente”, sublinha o artista, que não tem dúvidas em afirmar que o grafíti se tornou “uma das maiores referências de arte contemporânea” das novas gerações.
A história pode relembrar os tempos antigos, com exemplos encontrados em cidades romanas, onde os cidadãos escreviam mensagens nas paredes públicas. Era usado para expressar pensa- mentos, poemas e até protestos. O grafíti moderno, como o conhecemos, surgiu nas décadas de 1960 e 1970, nos subúrbios de Nova Iorque, onde os jovens usavam esta arte como forma de expressarem as suas lutas sociais e impulsionaram este movimento de arte de rua. Na altura tratava-se de um movimento contracultura, sobretudo urbano, e por muitos anos foi visto como um ato de marginalidade. Por isso, não é possível identificar com precisão quem foram os pioneiros.
Depois foi sofrendo alterações e com o passar do tempo assumiu várias vertentes, a mais antiga denomina-se “Tag”, e era utilizada como demarcação do território e afirmação perante a sociedade. No fundo, consiste em desenhar o nome da pessoa ou o nome de uma rua. Hoje, o “Tag” consiste, simplesmente, na assinatura do artista, sendo pouco elaborada na forma e nas cores e as cidades encontram-se preenchidas com essas assinaturas, muitas delas feitas no jogo do “gato e rato” com as autoridades.
Mesmo perante todas as dificuldades ao redor desta vertente artística, Davide Alves nunca desistiu da paixão. Em 2008 muda-se para Inglaterra com uma oferta de trabalho na área do grafíti numa galeria, mas acaba por acontecer de forma diferente do esperado e fica a trabalhar em outras áreas até regressar a Portugal. É em 2019 que decide dedicar-se a tempo inteiro ao projeto artístico com que sempre sonhou, e em conjunto com um amigo decidem abrir um espaço próprio, para poderem mostrar ao mundo aquilo que faziam. Davide vivia em Bristol e o amigo estava em Paris. Chegaram a consenso: esse espaço situar-se-ia em Lisboa.
“Chegámos a Portugal no dia 13 de março de 2020 e três dias depois fechou tudo, não conseguíamos alugar o espaço por causa da pandemia de covid-19, não podíamos sair de Portugal, não conseguíamos trabalhar, não conseguíamos sequer arrendar uma casa… foi quando regressei a Estremoz e acabei por ficar até agora, a trabalhar com o grafíti”, conta o artista, reconhecendo, no entanto, que as oportunidades aqui “são poucas”. E as poucas que surgem são criadas por eles próprios. “É verdade que temosmenos concorrência, mas ainda é um meio muito fechado. A cada 50 propostas que fazemos só uma passa”.
Foi para fazer face a essas dificuldades que, juntamente com outros artistas criaram a Sacana, que é uma associação cultural e artística, baseada no Alentejo. “O nosso principal objetivo é a evolução cultural e através dela ajudar artistas desta zona no seu crescimento e divulgação. Temos vários objetivos e planos de atividades, várias exposições e workshops para divulgar artistas e o que eles fazem”, revela.
Davide Alves acrescenta que na associação há muito se pede a “legalização de vários muros” para que os trabalhos artísticos possam acontecer. “Para podermos trabalhar precisamos de várias autorizações, seja do proprietário do edifício ou das Câmaras Municipais e enquanto associação temos muito mais hipóteses de ser ouvidos. A ideia é legalizar vários espaços por diferentes locais no Alentejo e assim ter galerias ao ar livre onde os artistas podem expor o seu trabalho permanentemente”.
CULTURA URBANA
O grafíti evoluiu de uma simples forma de “marcação territorial” para uma das expressões artísticas mais vibrantes e influentes da cultura urbana. Embora ainda seja objeto de controvérsia devido ao seu caráter muitas vezes ilegal, promete ser uma voz poderosa para movimentos sociais, culturais e artísticos ao redor do mundo. Em Portugal têm-se vindo a afirmar alguns nomes, entre os quais Vihls, porventura o mais divulgado, conhecido em particular pelos seus “rostos” esculpidos em paredes.