Perseguição a tiro ameaça a recuperação do abutre-preto em Portugal

Três aves alvejadas recentemente geram união na condenação deste tipo de atos por parte de organizações do projeto de conservação LIFE Aegypius Return, incluindo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Liga para a Proteção da Natureza (LPN).

Recorde-se o abutre preto (Aegypius monachus) é uma espécie protegida ao abrigo de legislação nacional e internacional, sendo que em Portugal o abate ou perturbação desta ave é um crime punível com pena de prisão até cinco anos. 

“No entanto”, lembram as associações ambientalistas, “a perseguição a esta espécie mantém-se um grave fator de ameaça e mortalidade”, tendo nos últimos meses sido atingidos, a tiro, pelo menos três abutres-pretos nascidos em Portugal.

Esta tomada de posição surge na sequência de um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) relativo a um abutre-preto alvejado a tiro que, asseguram “gerou um movimento de repúdio e condenação” tanto por parte das autoridades como de associações de conservação da natureza e entidades ligadas ao sector da caça, “que não se reveem e condenam veementemente este tipo de práticas criminosas”.

Sublinham as associações que “os crimes contra espécies protegidas, independentemente das motivações, são condenáveis e devem ser os seus autores responsabilizados, para além de ser fundamental continuar a desenvolver esforços para prevenir e erradicar situações análogas”.

Um dos abutres-pretos alvejados, Mirante, nasceu na Herdade da Contenda (Moura) em 2023, tendo deixado o ninho a 15 de agosto desse ano. O cadáver da ave seria encontrado em setembro do ano seguinte na região de Huelva, a cerca de 15 quilómetros da fronteira com Portugal, tendo sido alvejado a tiro de espingarda.

Uma outra ave, ainda juvenil, foi ferida a tiro no concelho de Loures. Entregue no Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa, ainda com vida, “não resistiu aos ferimentos”. As organizações conservacionistas revelam que, não se tratando de um território habitual para esta espécie, algumas aves juvenis “fazem voos de dispersão algo longos, afastando-se do seu habitat”, sendo por vezes encontradas “muito débeis e exaustos, em zonas urbanas ou costeiras”. 

A terceira ave atingida, Pousio, é a única cria conhecida da mais recente colónia, na Herdade do Monte da Ribeira, na Vidigueira. No final de janeiro, os funcionários da Herdade encontraram-na no solo, “com uma postura prostrada e comportamentos estranhos”. A ave foi recolhida pelo ICNF, confirmando-se que tinha sido atingida a tiro de espingarda, tendo sido recolhidos mais de 20 chumbos nas patas e no músculo peitoral.

“As lesões”, revelam as associações de defesa do ambiente, “obrigaram a várias intervenções médico-veterinárias”, encontram-se a ave a recuperar. “Ainda que venha a sobreviver”, referem, “tem elevados níveis de chumbo no organismo, o que, junto com as lesões, poderá condicionar a sua qualidade de vida e capacidade de sobrevivência e reprodução”.

“A morte de cada abutre representa a sua perda individual, mas também impossibilita que seja gerada descendência, limitando o futuro da espécie”, concluem.

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BRUNO HORTA SOARES
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