Políticas de combate ao despovoamento “não têm sido eficazes”

As políticas públicas desenhadas para travar o despovoamento em Portugal não têm produzido resultados significativos, por falta de coordenação entre Governo e municípios e pela aposta em medidas avulsas sem escala territorial, alertam especialistas em Geografia e Demografia.

“Tem havido alguma preocupação em termos de políticas públicas, mas do meu ponto de vista não têm tido eficácia. Não se percebeu ainda que as políticas têm de ser concertadas em diferentes áreas para terem o seu efeito”, afirma Maria Filomena Mendes, especialista em Demografia da Universidade de Évora e ex-presidente da Associação Portuguesa de Demografia.

A abertura de vagas para médicos em centros de saúde ou hospitais ou a redução do Imposto Municipal sobre Imóveis em algumas zonas são exemplos de políticas que, segundo Paulo Machado, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, “só por si não dão resultados”.

“A prioridade deve ser a melhoria da qualidade de vida das populações e, se conjugarmos grande parte dos nossos recursos e das nossas competências para a melhoria da qualidade de vida das famílias e ela for evidente, o investimento económico virá, por conseguinte”, defende, por sua vez, João Seixas, geógrafo da Universidade Nova de Lisboa.

A habitação surge como uma das prioridades. “Ninguém pensa fazer habitação em territórios demograficamente deprimidos, quando é o contrário do que se devia fazer”, alerta Paulo Machado.

João Ferrão, geógrafo e ex-secretário de Estado do Ordenamento do Território, considera que “em geral os municípios mais pequenos têm muita dificuldade em aceder, por razões técnicas e financeiras, a instrumentos que existem”, como o Plano de Recuperação e Resiliência e os apoios à habitação, contrapondo-os aos de maior dimensão que “conseguem candidatar-se e aproveitar do enquadramento existente”.

A melhoria das condições de vida, exemplificaram os investigadores, passa pelo reforço de creches, escolas ou universidades, transportes, serviços de apoio à família, políticas de integração de migrantes onde são mão-de-obra indispensável ou apoios às empresas para as atrair.

Fernanda Cravidão, da Universidade de Coimbra, e João Ferrão sublinham que é preciso haver convergência entre políticas nacionais e locais — ou entre Governo e municípios. “Continuamos a pensar em termos de investimento público à escala municipal, quando, na verdade, nós devíamos estar a pensar a uma escala intermunicipal”, afirma também Paulo Machado.

Segundo os investigadores, é necessário dar mais competências às comunidades intermunicipais, com técnicos mais qualificados para elaborarem projetos ou candidaturas a financiamentos e, ao mesmo tempo, conhecedores do território. Só a associação intermunicipal pode, defendem, dar escala e possibilitar uma partilha de equipamentos e recursos financeiros.

Texto: Alentejo Ilustrado/Lusa | Fotografia: Arquivo

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