População de Alcácer do Sal farta de (apenas) ver passar o comboio

Alcácer do Sal poderia estar a 45 minutos do centro de Lisboa. Poderia, mas nenhum dos comboios que por ali passa, em linha eletrificada, tem autorização para parar. Ana Luísa Delgado (texto e fotografia)

Não será por falta de reuniões que o comboio continua sem parar em Alcácer do Sal. Vítor Proença, presidente da Câmara e da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (Cimal) conta as mais recentes: “Tivemos duas reuniões com o antigo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, outra com o seu sucessor, João Galamba, mais uma com a Infraestruturas de Portugal, que também não deu em nada, e outra com o presidente da CP, que teve o mesmo resultado”. Resta-lhe bater à porta do novo Governo e continuar a denunciar que a população local “está farta” de ver passar comboios. “Vamos continuar empenhados em retomar o transporte de passageiros na Linha do Sul”, garante.

A Estação Ferroviária de Alcácer do Sal encerrou em dezembro de 2011. De então para cá, a ferrovia entrou no discurso político, o país aprovou o Plano Ferroviário Nacional (PNF) e Alcácer não foi esquecido. O problema é que a retoma da ligação de passageiros surge condicionada à construção da nova ponte sobre o Tejo, ou seja, não será para os próximos anos.

“Os ganhos de tempo resultantes da nova ponte permitem retomar o serviço a Alcácer do Sal sem comprometer o tempo de viagem total”, refere o PNF. A ligação entre Lisboa e Faro, através do Intercidades, demora três horas e meia, com a construção da nova ponte passará para 3h15, mesmo com mais uma paragem: a de Alcácer do Sal. “Desta forma”, acrescenta o documento, “permite-se que os comboios interurbanos efetuem serviço regional nesta linha e evita-se a criação de um serviço local autónomo, para o qual é pouco provável a existência de procura que o justifique”. Intenções, sem resultado prático, muito menos imediato.

A ideia dos autarcas é que a ferrovia possa voltar a servir as populações do Alentejo Litoral, sendo criados acessos à rede em Alcácer, Grândola, Santiago do Cacém, Sines e numa localização a definir no concelho de Odemira. Vítor Proença lembra que a linha “está praticamente toda eletrificada”, o que “é meio caminho andado para facilitar o regresso dos comboios”. Sem eles, lamenta, “falta mobilidade às populações, torna-se longe o que poderia estar mais perto e essa seria uma importante medida para o desenvolvimento regional”.

Quem também não compreende a demora na retoma do serviços de passageiros é Jacinto Vinagre, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Concelho de Alcácer do Sal. “Nada disto se compreende, até parece anedótico”, desabafa, lembrando que “o comboio passa, a infraestrutura está lá, a estação está completa e a linha eletrificada”.

O único problema é que o comboio passa mas não pára, apenas o faz no Pinhal Novo ou em Grândola. Quem vive em Alcácer tem o comboio à porta, mas se o quiser utilizar terá de percorrer cerca de 40 quilómetros (pelo caminho mais rápido) até Grândola. “É uma coisa sem sentido, basta uma decisão política e fica resolvido na hora”, diz Jacinto Vinagre, também ele já habituado ao circuito das reuniões sem resultados: “Já fomos recebidos por ministros de Governos anteriores, dizem-nos que vão estudar a situação, mas nunca mais o problema se resolve”.

Segundo Jacinto Vinagre, a paragem do comboio será também uma forma de promover a fixação de pessoas, sobretudo os jovens. “Há alunos a estudar em Lisboa, os pais têm de suportar os custos de estadia, com preços elevadíssimos, se houvesse comboio com horário compatível estavam a 45 minutos do centro de Lisboa e, depois, regressavam a casa”, sublinha.

Além de promover debates e protestos, a Comissão de Utentes prepara-se para “voltar à carga” e já pediu uma reunião com o novo ministro das Infraestruturas. “Se não houver resposta”, garante, “logo veremos que ações de luta iremos travar, mas a paragem do comboio tem de ser retomada”.

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