Quebra no preço da cortiça ameaça sustentabilidade da produção

O sector da cortiça enfrenta uma crise preocupante, com uma quebra de preços registada na campanha de 2024 e o risco de nova descida em 2025 para níveis considerados insustentáveis.

A UNAC – União da Floresta Mediterrânica alerta que valores abaixo dos 30 euros por arroba deixam uma parte significativa da área de produção portuguesa sem capacidade para suportar os custos da gestão corrente.

“Preços de cortiça abaixo dos 30 euros por arroba deixam uma grande fatia da área de produção de cortiça portuguesa em situação de não conseguir pagar os custos da gestão corrente do último ciclo de produção”, refere fonte da UNAC.

“Há uma preocupante coincidência dessas áreas com as que terão maiores problemas de sustentabilidade e um impacto transversal sobre o valor das restantes áreas produtivas, o que limita quase por completo as expetativas de um investimento viável em sobreiros”, acrescenta.

A campanha de 2024 já havia sido marcada por uma acentuada quebra de preços. O preço médio de comercialização da cortiça fixou-se nos 34,32 euros uma redução de 17,1 % face ao ano anterior, segundo dados do inquérito da UNAC. Em paralelo, o custo médio de extração subiu para 7,66 euros, mais 30% do que em 2023. Esta conjugação de fatores resultou numa quebra de 25% na margem média disponível para os produtores.

“Esta realidade representa uma penalização injusta para os produtores, que veem os seus rendimentos esmagados entre a baixa de preços à produção e o aumento dos custos operacionais”, refere a mesma fonte.

A queda nos preços foi amplificada por um ambiente negativo na indústria, associado à crise no sector do vinho e à quebra das exportações de cortiça no primeiro trimestre de 2024, tanto em volume como em valor. Apesar de uma recuperação na segunda metade do ano, que permitiu fechar 2024 com volumes semelhantes a 2023, o valor das exportações registou uma descida global de 5%.

“Os mercados ressentiram-se das notícias negativas sobre o consumo e do excesso de produção de vinho a nível mundial”, nota a UNAC, sublinhando que essa perceção impactou diretamente o valor atribuído à cortiça.

“Uma nova descida dos preços à produção representa uma correção para além do razoável. A curva de evolução do preço da matéria-prima será negativa e fortemente desmotivadora da gestão e do investimento pela produção”, adverte.

A UNAC sublinha ainda que, num mercado pressionado para desvalorizar a matéria-prima, garantir a venda da cortiça previamente à sua extração é essencial. “Extrair sem assegurar previamente a venda diminui exponencialmente o nosso poder negocial”, afirma.

Neste contexto, a organização recomenda que a decisão de venda tenha em conta três pressupostos fundamentais: conhecer as características da cortiça, através de análise prévia; garantir sempre a venda antes da extração, mesmo que isso implique adiar o processo; e, preferencialmente, realizar a extração por conta e risco do proprietário, assegurando um acompanhamento técnico regular.

Ainda assim, existem sinais “moderadamente positivos” para a campanha deste ano. A precipitação abundante permitiu uma boa recuperação fisiológica dos montados, o que faz antever condições favoráveis para a extração. Ao mesmo tempo, há perspetivas de estabilização dos mercados do vinho e um potencial de recuperação da indústria, sustentado nas boas condições de aquisição da matéria-prima em 2024 e na manutenção dos preços dos produtos acabados (nomeadamente a rolha) em 2025.

A UNAC subinha que o relançamento da fileira exige equilíbrio e responsabilidade de todos os intervenientes. “A divisão do esforço de relançamento da fileira tem de ser equitativa. Posicionar essa fasquia de forma desequilibrada coloca em risco a sustentabilidade global da fileira e da produção de matéria-prima no médio prazo”, conclui.

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