Nesta nova série, proponho juntar duas paixões que me alimentam: o digital e a gastronomia alentejana. Porque no Alentejo a cozinha sempre foi mais do que comida, foi história, cultura e partilha; e a tecnologia, quando bem entendida, também pode ser isso mesmo, um fermento de encontros e um lume aceso de oportunidades. Ao longo de seis receitas, vamos provar que a transformação digital não tem de ser complicada nem ser desenxabida, tal como um prato bem temperado, pode ser feita com calma, com saber e sempre em boa companhia.
No Alentejo, a açorda sempre foi um sinal de engenho: pegar no pão de ontem e transformá-lo em sustento quente para hoje. Água, alho, poejo, um fio de azeite e a coragem de não desperdiçar, ingredientes simples, mas que ganham sabor quando se misturam com saber e tempo. Também a aprendizagem poderia ser assim, um reaproveitamento do que já trazemos, com uma pitada de curiosidade e a coragem de perguntar sem vergonha.
Neste tempo em que as tecnologias se renovam todos os dias, a aprendizagem contínua tornou-se tão essencial como a água a ferver que amolece o pão duro. Não basta ter um telemóvel ou um computador pousado na mesa, é preciso mexer-lhe, como quem mexe a açorda, com calma mas sem medo. É preciso querer experimentar, dar espaço ao erro e lembrar que ninguém nasce ensinado, tal como ninguém nasce a saber temperar a açorda à primeira.
Um pouco de acesso à internet, por modesto que seja, pode abrir janelas novas. Não se trata de aprender para ser “moderno”, mas para não desperdiçar oportunidades, para não ficar de fora da conversa, para não perder o direito de participar. Tal como a açorda alimentava famílias inteiras em torno de uma tigela, também a aprendizagem se partilha melhor em comunidade, perguntando a um neto, a um amigo, a um vizinho, ou até procurar um voluntário que explique sem pressas.
E como na cozinha, vale sempre a pena tirar notas para mais tarde recordar e voltar a acertar. Escrever num caderno o que se aprendeu, insistir em repetir, misturar memórias antigas com gestos novos, porque aprender não gasta, só transforma. O saber é como um pão que nunca acaba, sempre pronto a absorver novos caldos, novos sabores, novas histórias.
No fim, aprender de forma contínua é tão alentejano quanto a própria açorda, acaba por transformar o que parecia velho ou inútil, aquece a alma e garante que ninguém fica para trás à mesa da vida. Que a tecnologia nos seja sempre servida assim, temperada com coragem, partilhada com gosto e servida em boa companhia.
Pitada digital: Este mês, experimente aprender algo novo no telemóvel ou no computador. Pode ser seguir um novo canal de notícias de confiança, inscrever-se num curso gratuito ou organizar melhor as suas fotografias digitais. Tal como na açorda, comece com calma, mexa sem medos e, se resultar, partilhe o sabor do que aprendeu com quem lhe é próximo.










