Receita #2 – Ensopado de Senhas – “Temperar a memória com segurança”

Bruno Horta Soares (texto) - Ilustração gerada por inteligência artificial

No Alentejo, o ensopado sempre foi prato de sustento, um caldo quente, generoso, onde se juntam as batatas, a carne, a banha, o pimentão e onde a cada dentada se faz conforto para o corpo e alento para os dias frios. Mas o segredo do ensopado não está apenas nos ingredientes, está na forma de os misturar, de os provar e de os vigiar ao lume. É a atenção constante que impede que o caldo talhe ou que fique sem sabor.

Com as nossas senhas, passa-se o mesmo, é preciso ter muita atenção porque são elas que nos abrem a porta ao que é nosso na internet: contas de correio eletrónico, contas bancárias, fotografias ou conversas.

São como chaves que guardamos no bolso, mas que, por vezes, deixamos esquecidas, repetidas ou partidas. Há quem use a mesma senha para tudo, mas isso é como deixar o bedum no borrego, parece que não faz mal, até ao dia em que estraga a carne toda.

A primeira regra, tal como no bom ensopado, é não repetir sempre os mesmos ingredientes. É importante usar senhas diferentes para cada conta, tal como se escolhe a melhor carne, o pão certo e os coentros frescos para dar harmonia a cada prato.

Depois, a qualidade, com senhas longas, com letras, números e símbolos, para não serem fáceis de adivinhar. Tal como um ensopado sem tempero não mata a fome, uma senha fraca também não protege ninguém.

Há quem tema esquecer-se de tantas senhas, o que faz todo o sentido, mas isso não pode ser desculpa para escrever o ingrediente secreto num qualquer papel. É difícil decorar tantas combinações, como é difícil acertar o ponto do ensopado à primeira, mas mais vale a pena usar uma aplicação de gestão de senhas, que funcione como uma panela de ferro: robusta, segura e pronta a guardar as senhas sem deixar escapar nada.

Também não se pode confiar na atenção, as senhas são tesouros que não se devem oferecer a quem passa e o que não faltam são histórias de amigos que, num telefonema distraído, revelam a senha em voz alta, como quem partilha a receita aos quatro ventos sem se dar conta. Convém manter sempre as chaves fora do alcance de quem não tem de as provar.

Mas sejamos claros, comer sempre o mesmo prato também enjoa e perde a graça. De vez em quando, troque-as, refresque-as, tal como se renova o caldo de um dia para o outro, para ficar mais apuradinho. É um gesto simples, mas que faz toda a diferença, porque evita que o prato azede.

No fim, a segurança digital não é modinha moderna. É uma forma de garantir que, mesmo num mundo feito de dados e cliques, continuamos a ter controlo sobre as nossas histórias, as nossas conversas e o nosso dinheiro. Tal como o ensopado aquece e reconforta, uma boa gestão de senhas dá-nos paz de espírito para viver sem sobressaltos.

Que possamos temperar estas senhas como se tempera o caldo, com paciência, com atenção e com respeito pelo que nos alimenta. E se alguma falhar, não há vergonha em voltar a pôr a panela ao lume, ajustar o sal, e recomeçar.

Pitada digital

Este mês, tempere a sua segurança com três ingredientes: misture a sua senha (algo que sabe), com um código no seu telemóvel (algo que tem) e, se puder, com uma pitada de impressão digital ou rosto (algo que é). Assim como no bom ensopado, cada ca- mada protege a outra e garante um sabor seguro até à última garfada.

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