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Revolução assente em 20 mil milhões de investimento

Nuno Mascarenhas fala em “revolução” que levará mais de seis mil pessoas a fixarem-se no território. O maior dos mega-projetos é um centro de dados, “vale” 5,3 mil milhões de euros e a primeira fase começou agora a funcionar. Habitação e mobilidade são os maiores problemas. Luís Godinho e Ana Luísa Delgado (texto)

Dificilmente haverá melhor palavra para descrever o que se vive em Sines: revolução. Do hidrogénio verde ao lítio, dos centros de dados à expansão dos terminais de contentores, estão anunciados para o concelho projetos que envolvem um investimento global superior a 20 mil milhões de euros. Para se ter uma ideia de grandeza, é uma verba equivalente à de todo o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e 20 vezes superior ao que será gasto nos próximos cinco anos pelo Programa Alentejo 2030.

Se essa revolução se consubstancia num volume de investimentos sem precedentes, alguns dos quais já em curso, traduz-se igualmente na criação de postos de trabalho, que o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, calcula que possam chegar aos 25 mil, entre diretos e indiretos, nos próximos dois anos. 

E, claro, em impactos significativos ao nível do urbanismo, com a pressão demográfica a fazer disparar o preço da habitação. O autarca antecipa a fixação na região, não só em Sines como no vizinho concelho de Santiago do Cacém, de muitos milhares de pessoas. 

“Na próxima década Sines pode vir a ter um crescimento da sua população seguramente de seis a sete mil habitantes. A que se somam mais quatro a cinco mil trabalhadores na fase de empreitada dos diversos projetos. Deste ponto de vista, é um desafio enorme albergar aqui mais de 10 mil pessoas, é algo em que estamos a trabalhar para que essa processo decorra da melhor forma”, refere Nuno Mascarenhas.

O maior dos mega-projetos para Sines é o Star Campus, cujo investimento poderá chegar a 5,3 mil milhões de euros, a concretizar por várias fases até 2028, permitindo a criação de até 1200 postos de trabalho diretos, “altamente qualificados”. A primeira fase foi concluída este mês, com a abertura do primeiro edifício, que estará totalmente operacional em março do próximo ano

“Estamos a desenvolver um ecossistema dinâmico impulsionado pela tecnologia que colocará Portugal no centro do mercado internacional de dados que está em grande e acelerado desenvolvimento”, diz Afonso Salema, presidente do conselho de administração da Start Campus. Segundo a empresa, o centro “beneficia de todas as vantagens estratégicas” de Sines, tais como “sistemas de arrefecimento de água do mar, acesso à rede elétrica de alta tensão, e conectividade através da ligação a redes internacionais de alta capacidade de cabos de fibra ótica com a América do Norte, África e América do Sul”.

Entre os maiores dos maiores projetos estão os relacionados com o hidrogénio verde, liderados pela Repsol e pela Galp (cada um deles com um investimento previsto na ordem dos 1,2 mil milhões de euros), mas também pela Iberdrola (2,8 mil milhões) ou pelo consórcio NeoGreen (1,5 mil milhões). De acordo com o secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, trata-se de “corporizar a Estratégia Nacional para o Hidrogénio na constituição de um Sines Hydrogen Valley, concretizando a aposta do Governo em desenvolver a economia portuguesa com base numa dupla transição energética e digital”.

Mas há mais. A expansão dos terminais de contentores do Porto de Sines envolverá investimento superior a 1,1 mil milhões de euros, a Águas de Santo André tenciona construir uma dessalinizadora direcionada para o abastecimento de águas às unidades industriais, e os chineses da CALB, o sexto maior produtor mundial de baterias para carros elétricos, projetam investir 3,4 mil milhões na construção de uma fábrica de baterias de lítio. 

O memorando de entendimento com o Estado português foi assinado em novembro do ano passado. O processo de licenciamento ambiental iniciou-se em março deste ano. A empresa refere que a unidade “será construída com recurso a tecnologia que visa a proteção do ambiente” incluindo um conjunto de cinco edifícios para a produção de elétrodos, fabrico de células, formação e montagem, embalamento e fabrico de invólucros. 

“É de facto uma revolução”, constata Nuno Mascarenhas, sublinhando que alguns destes projetos já estão no terreno, entre os quais a obra de ampliação do terminal de contentores do Porto de Sines, já na recta final.

HABITAÇÃO E MOBILIDADE SÃO OS MAIORES DESAFIOS

“Existem diversos investimentos a decorrer, tudo junto supera os 20 mil milhões de euros e isso vem dar uma nova dinâmica económica à região. Isso já está a acontecer e vai intensificar-se, vai ser algo muito semelhante àquilo que aconteceu nos anos 60 e 70 do século passado quando se deu inicio à construção da zona portuária de Sines”, acrescenta o autarca, referindo que era um momento “ambicionado” pelo território, embora traga “grandes desafios”. A começar pelo da habitação.

“Já estamos a dar respostas concretas”, diz Nuno Mascarenhas, reconhecendo que “não serão suficientes para fazer face” ao número de pessoas que se irá instalar no território. “Já colocamos no mercado algumas centenas de lotes para construção, ainda agora colocámos no mercado e vendemos mais 104 fogos, portanto a Câmara está a colocar terrenos no mercado para que os promotores possam construir”. 

Em paralelo decorre a implementação da Estratégia Local de Habitação, num investimento de 13 milhões de euros financiado pelo PRR que irá permitir apoiar 162 agregados familiares. “Mas estamos sobretudo a incentivar o investimento privado para que dessa forma nos possam ajudar numa área, a habitação, que é essencial para que o concelho possa acolher estes grandes investimentos”.

Também as questões de mobilidade ganham relevância neste contexto, desde logo porque, todos os dias, entram cerca de seis mil pessoas para trabalhar em Sines. Nos próximos anos serão mais, muitos mais, pelo que a autarquia vai rever o plano de mobilidade urbana. “Nas ligações que temos com os outros concelhos do litoral alentejano, a entidade que gere os transportes é a Comunidade Intermunicipal de forma a dar-nos garantias de que toda a gente tem transporte assegurado”.

Mas há problemas em aberto. “A ligação de Sines a Grândola numa visa com perfil de autoestrada é absolutamente essencial para fazer face a este crescimento de investimentos que está a acontecer no concelho”, adverte Nuno Mascarenhas. O troço Relvas Verdes-Roncão está em obra. Mas o mesmo não sucede com o troço entre Roncão e Grândola Norte, cujo estudo de impacte ambiental só deverá ser finalizado no próximo ano. 

Numa visita a Sines, o próprio ministro das Infraestruturas, João Galamba, classificou a obra como sendo “da maior importância” para responder aos projetos de expansão do Porto de Sines e de crescimento da zona industrial, “que colocam imensa pressão do ponto de vista de infraestruturas”. Em qualquer dos casos, advertiu, só lá para 2026 é que a ligação por autoestrada entre Sines e Grândola poderá ficar concluída.

PRESSÃO IMOBILIÁRIA

A necessidade de habitação para fazer face ao expectável crescimento da população é uma das “maiores preocupações” da autarquia, reconhece o presidente da Câmara. Acresce que o aumento da procura tem feito “disparar” o preço da habitação. “Há muita procura e pouca oferta e a pressão vai ser cada vez maior”, sublinha. O arrendamento de um T3 em Sines não se consegue por menos de 800 euros.

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