Ritmos e batidas no trajeto musical de Tiago Cardona, ‘beatboxer’

Começou aos 11 anos, mas só aos 13 descobriu que os ritmos e batidas que aprendera a fazer se enquadravam num género artístico: o ‘beatbox’. De então para cá, conquistou os palcos televisivos e é presença assídua nos Campeonatos Nacionais. Aos 23 anos, Tiago Cardona prepara agora a sua estreia a nível internacional. Mariana Miguéns (texto e fotografia)

Nascido e criado em Estremoz, Tiago Cardona pratica uma arte (ainda) pouco divulgada no Alentejo. Chama-se beatbox e consiste numa for- ma de arte vocal que envolve a produção de sons musicais, ritmos e batidas usando a boca, os lábios, a língua e a voz. Embora seja parte da cultura hip-hop, as suas raízes são múltiplas e abrangem várias outras culturas e tradições musicais ao redor do mundo.

O beatbox surgiu na vida do Tiago Cardona aos 11 anos, enquanto navegava pela internet à procura de outros géneros de música. Esbarrou nestas sonoridades e não mais as deixou, ainda que a falta de oportunidades em Portugal, e principalmente no Alentejo, não facilite a vida a estes jovens que procuram partilhar experiências com pessoas que gostam da mesma arte. “Não se ama alguém que não ouve a mesma canção”, lá diz a célebre música de Rui Veloso.

O beatbox chegou a Portugal em resultado do crescente interesse pela cultura hip-hop, que se espalhou pelo país nos anos de 1990, através de filmes ou videoclipes, e da presença deste estilo de música nas rádios e na televisão. Foi aí, e na internet, que os jovens portugueses se começaram a interessar pelos elementos identitários dessa cultura, incluindo o beatbox. Tiago Cardona não fugiu à regra.

“Comecei a ouvir músicas na internet e a tentar repeti-las com a boca. Na altura fazia algumas melodias sem saber que era uma vertente do hip-hop, inventava, às vezes escrevia algumas coisas, comecei a interessar-me por pautas, por notas musicais”, conta.

Mais tarde, em 2011, surgiu na SIC um programa chamado “Portugal Tem Talento” [baseado no formato original britânico “Britain’s Got Talent”] onde “brilhou” Filipe Santos, com o nome artístico de Fubu. Filipe Santos não só ganhou o programa, e o correspondente prémio de 100 mil euros, como a sua prestação enquanto beatboxer acabou por influenciar outros jovens interessados nessa arte dos ritmos e batidas feitos sem recurso a instrumentos musicais.

“Nessa altura apercebi-me que o que fazia era arte. A partir desse momento comecei a explorar mais o conceito, a ler e a evoluir enquanto artista”, diz Tiago Cardona, que apesar de, por esses tempos, “não ter tido oportunidades” em Estremoz ou no Alentejo para mostrar o seu trabalho, nunca parou de lutar, de pesquisar, de procurar novas oportunidades para mostrar aos outros o que aprendera sozinho. Desistir sempre esteve fora de causa.

Aos 13 anos, em 2014, participou num campeonato nacional. Aos 17 chegou às meias-finais do “Got Talent Portugal” (RTP 1). “Passámos mais uma fase, a caminho do sonho…”, escreveu nas redes sociais aquando do apuramento para a segunda fase do programa. Ficou por aí.

Damos um salto de dois anos, rumo à Aldeia Social da Santa Casa da Misericórdia de Borba, palco de uma iniciativa denominada “Mostra o Que Vales – Got Talent”, aberta à participação de artistas regionais. Nesse ano, 2019, Tiago Cardona sai de Borba com o primeiro pré- mio, numa edição (curiosamente) em que o terceiro classifica- do foi o Budafé [nome artístico do elvense Fábio Brás], um artista de hip-hop.

“A partir de Borba atuei em vários outros palcos do Alentejo e consegui levar a minha música a mais ouvidos, a outras mentes, a pessoas que nunca tinham ouvido estas sonoridades. Uns gostaram, outros acharam estranho, não esperavam, estão habituados a outro tipo de música… e está tudo bem”, desabafa.

No percurso artístico do jovem estremocense destaque ainda para a sua participação no Campeonato de Beatbox 2021, onde conviveu com diversos artistas nacionais e estrangeiros, e de onde trouxe “outras perspetivas” sobre os circuitos artísticos. Apurou-se para a segunda fase, mas não conseguiu estar presente. Este ano regres- sou, as coisas “correram bem”, a próxima fase será em Barcelona e Tiago pode finalmente aproveitar a oportunidade de participar num evento fora do país.

“O facto de viver em Portugal, mais concretamente em Estremoz, não nos permite ter muitas oportunidades, muito menos viver exclusivamente da música, pois ainda é uma arte que está em desenvolvimento e é pouco conhecida. Embora, em certos países como Suíça, França, China ou Reino Unido, entre outros, existam mais opções para os beatboxers… desde logo porque a Swissbeatbox [a maior plataforma de beatbox à escala global] atua nestes países mais assiduamente, com várias iniciativas como campeonatos nacionais, europeus e mundiais”. Em Portu- gal, a Instrumentless, da qual é sócio, está a percorrer o seu caminho e a dinamizar atividades e provas com artistas de todo o país.

“O que eu quero futuramente”, sublinha Tiago Carona, “é passar na próxima fase do Campeonato Nacional, mostrar aquilo que aprendi ao longo de todos estes anos, nos quais fui aprendendo sozinho, mas também com a ajuda dos artistas que fui conhecendo durante um percurso que já é extenso”.

Desafio imediato: aproveitar o “balanço” internacional para conseguir um maior reconhecimento. Daí a mais atuações será apenas um passo. Depois, “the beat goes on” [“a batida continua”], como canta Eminem numa das suas mais célebres músicas: “Lose Yourself”.

CAIXA DE BATIDA

Traduzido à letra do inglês, beatbox significa “caixa de batida”. E é a expressão utilizada para definir a arte de reproduzir sons, como os de bateria, efeitos eletrónicos e de dj’s ou outros instrumentos musicais, apenas com a voz, boca e nariz. Apesar das suas múltiplas raízes e influências, começou a marcar ritmos nos becos de Nova Iorque, no início da década de 80.

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