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Salvas da derrocada, as grutas irão voltar a abrir

Uma intervenção de restauro, agora concluída, permitiu evitar a destruição de um património documentado desde o século XIII, mas que poderá remontar à época do império romano.

Luís Godinho (texto) e Alexandre de Barahona (fotografia)

Quem hoje entra no espaço a que muitos chamam as “grutas” de Alvito, e ver-se-á daqui a pouco que no local funcionou durante séculos uma pedreira, consegue observar a vasta área do tecto que caiu em 2009. Essa derrocada colocou toda a estrutura em risco e levou ao encerramento do espaço. “Não existiam quaisquer condições de segurança para manter o espaço acessível ao público”, lembra o atual presidente da Câmara, José Efigénio, lembrando que a recuperação do espaço correspondia “não só a uma ambição” da população local, como a uma “aposta importantíssima” para atrair visitantes ao concelho.

Na verdade, era ainda mais que isso. É que uma outra derrocada poderia arrastar a Ermida de São Sebastião, um Imóvel de Interesse Público construído no início do século XVI – a primeira referência documental ao monumento data de 1535 – e cuja pintura mural terá sido provavelmente executada pelo pintor José Escobar. “Tudo isso estava em risco e obra que agora realizámos permitiu consolidar os pilares, evitar novas derrocadas, salvaguardar as grutas e a ermida, toda este memória histórica”, comenta José Efigénio. 

Esta primeira fase de intervenção, destinada a consolidar a estrutura, representou um investimento na ordem dos 400 mil euros. A que se seguirá um outro para criar um centro interpretativo e tornar o local visitável, “uma referência para o turismo”, garante o autarca recordando que as grutas do Rossio de Alvito “são artificiais”, ao contrário do sucede com a maioria das existentes no nosso país, com origens que remontam, pelo menos, ao século XIII.

Na verdade, sublinha o arqueólogo Jorge Feio, “correspondem a pedreiras subterrâneas para extração de calcário, tanto para a confeção de elementos arquitetónicos como de mós”, ocupando uma área ligeiramente inferior a três hectares, por baixo do Rossio, Aliás, esta área “ainda hoje é conhecida como sendo ‘das pedreiras’, um topónimo que perdura”.

Confirmando que as mais antigas referências documentais remontam a meados do século XIII, Jorge Feio assegura que “existem evidências” que o calcário de Alvito “já era utilizado na época romana na construção de edifícios públicos de um povoado importante, muito provavelmente a Ciuitas Mirietanorum situada a menos de 150 metros das galerias”, próximo do atual estaleiro municipal da vila.

“Esta situação”, prossegue, “pode significar que estas pedreiras já eram exploradas, pelo menos, desde o século I. É também muito provável que durante a ocupação islâmica e na fase pós-conquista portuguesa do território de Alvito (exatamente no mesmo momento da conquista de Évora), as pedreiras de Alvito tivessem continuado a ser exploradas, pois as terras férteis e a quantidade de moinhos de água existentes na Ribeira de Odivelas e nos Ribeiros de Alvito e de Água de Peixes justificavam a necessidade de uma produção intensiva de mós, precisamente o produto mais famoso que aqui era produzido”.

Sabe-se também que entre 1251 e 1279 o seu proprietário foi Dom Estêvão Anes, chanceler-mor do reino, que as deixou em testamento à ordem da Santíssima Trindade, sendo encerradas em 1628 “após uma disputa perdida” com a Câmara Municipal.

O arqueólogo revela que a exploração era feita em galerias subterrâneas, “com a construção de grandes salas com a cobertura suportada por grandes pilares de substrato rochoso que ficava por escavar. Por vezes existiam respiradouros” sobretudo quando se avançava com a exploração em zonas de silos (muito provavelmente islâmicos), que eram cortados, permitindo a entrada de iluminação e tornando o ambiente subterrâneo respirável”. As mós eram talhadas na própria rocha e retiradas, secando depois ao sol.

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