A estratégia surge de um trabalho refletido com a comunidade e consolida-se em 2019. Anabela Ferreira, uma das intervenientes do grupo de trabalho criado dentro do Município, explica como tudo começou: “No âmbito da Agenda 21 promovemos vários programas, como, o quilómetro zero, as hortas comunitárias, a semana da alimentação nas escolas, encontros com produtores locais ou jogos pedagógicos pensados para chegarmos às crianças e aos jovens”.
Depois, a a construção da estratégia foi um trabalho de mediação centrado no sistema agroalimentar do concelho. Assim, o grupo de trabalho reuniu cidadãos, empresas e instituições locais e nacionais que tinham responsabilidade na área alimentar, estimulando a sua participação, concluindo-se que haveria matéria suficiente para que a SMEA ganhasse uma expressão maior.
“Era importante colocarmos estes produtores a discutirem o ‘estado da arte’ na região e daqui resultou uma carta de compromisso que norteia os diversos parceiros”, acrescenta Anabela Ferreira. “A nossa intenção, enquanto grupo de trabalho”, esclarece, “é dinamizar e articular todas as atividades, mas queremos que o Conselho Geral da SMEA tenha uma expressão individual e que se desagregue do Município, passando este a ser um parceiro tão forte e importante como outro qualquer”.
A estratégia assenta em quatro eixos estruturantes: a segurança e saúde alimentar; consumos, produção, circuitos e comercialização; sustentabilidade e gestão de recursos e, por fim, a governança estratégica que lhe dá sustentação para haver políticas de continuidade.
Cada eixo tem objetivos específicos, mas, em termos gerais, estamos sempre a falar de boas práticas agrícolas, uso eficiente da água, boa gestão do solo, combate ao desperdício alimentar, preservação e conservação das variedades tradicionais que se encontram em risco, como a cebola roxa ou os recursos silvestres do montado.
Inês Fernandes, engenheira alimentar, e Pedro Magrinho (na foto), criaram a Hortalmansor e são um dos parceiros SMEA. Decidiram voltar a cultivar a terra e escolheram a cebola roxa de Montemor-o-Novo, a cebola valenciana, o alho francês, espinafres, acelgas e aromáticas que pretendem cultivar utilizando modo de produção biodinâmico. “Ao sermos parceiros temos acesso a formações, ações de promoção de venda de produtos e informação sobre os produtos hortícolas locais bem como à dinamização dos mesmos e isso é uma mais-valia para a nossa empresa”, diz Inês Fernandes, que anteriormente trabalhava na cooperativa Minga diretamente com os produtores locais.
Luís Marques, também ele engenheiro alimentar e contabilista certificado, é um dos responsáveis pela empresa Segredos do Montado, também parceira do projeto, que produz carne de excelência a partir dos animais criados nos pastos alentejanos. Revela que a estratégia está perfeitamente alinhada com os valores da empresa, centrada em produzir respeitando o meio ambiente e o bem-estar animal.
“Esta parceria dá-nos visibilidade e atesta também a forma de trabalharmos numa área de negócio que tem cada vez mais entraves, a da carne, dado todo o caminho que se tem de percorrer até chegar à mesa do consumidor. Este é um negócio que está cada vez mais concentrado em grandes produtores e a nossa empresa faz uma seleção meticulosa dos animais locais, criados ao ar livre, e alimentados de forma natural. Isto faz muita diferença na qualidade da carne”, refere Luís Marques.
Falando em montado, a bolota é já um produto transformado e destacado a nível ibérico, como por exemplo, o pão de bolota que se pode comprar na loja da Herdade do Freixo do Meio. No Mercado Municipal de Montemor-o-Novo também existe uma loja, Cá da Terra, parceira SMEA, onde podem encontrar-se vários produtos produzidos pelos parceiros.
A literacia alimentar é outra das áreas relevantes deste projeto, chegando às escolas através de várias formas. O jogo “à mesa não se brinca?” é interativo e visa ensinar vários conceitos como, por exemplo, em que consiste a dieta mediterrânica, sensibilizar os alunos para o desperdício alimentar, para a sazonalidade da alimentação, e para a leitura de rótulos, funda- mental na decisão de compra do consumidor.
A SMEA acolhe novos parceiros que podem vir de outras regiões, desde que estejam disponíveis para contribuir com o seu testemunho, experiência e conhecimento para o grupo de trabalho. A ideia é a de sempre: valorizar os recursos naturais da região promovendo o desenvolvimento económico e a criação de riqueza em territórios de baixa densidade.