Sim, a maneira como os alimentos são produzidos “importa”. Tal como é importante a compreensão das diferenças entre “uma agricultura saudável, que respeita o território e os ciclos da natureza”, sem utilização de produtos químicos, e as “monoculturas de produção intensiva”. É pelo menos esta a convicção de Paulo Amado, diretor do “Soil to Soul”, festival que está de regresso ao castelo de Alandroal para “alertar a todos para a importância do solo, um dos nossos bens mais preciosos, vital para a saúde humana e do planeta”.
O evento far-se-á da degustação de pratos confecionados com produtos, na sua maioria, provenientes do próprio concelho, em sugestões onde o trabalho de ‘chefs’ contemporâneos se irá cruzar com a cozinha tradicional. Na sua terceira edição o “Soil to Soul” irá, pela primeira vez, abrir as portas aos restaurantes locais, estando confirmada a presença de 13.
Haverá degustações, é certo. Mas também conversas sobre os mais variados tema, da sustentabilidade à agricultura regenerativa, do vinho no feminino à identidade e culinária, além da música, com o hispano-britânico Gizmo Varillas no primeiro dia (20h00) e Sean Riley (18h00), no dia de encerramento.
Criado na Suíça por Thomas Sterchi, o movimento “Soil to Soul” apresenta-se como uma “plataforma de conhecimento” para produzir informação e eventos que promovam a sustentabilidade. Sterchi é também o proprietário da Terramay, projeto de agricultura regenerativa nas margens do Guadiana, fundado com o objetivo de “promover a importância da saúde dos solos, da consciência alimentar e o combate à desertificação”.
“Em cada solo saudável, existe uma diversidade de microrganismos que formam simbioses valiosas com a vida vegetal. Estes constituem o microbioma do solo. A agricultura industrial está consciente deste facto, mas continua a prestar-lhe pouca atenção. Como resultado, o mundo perde todos os anos solos valiosos que poderiam servir para alimentar um número crescente de pessoas”, refere o movimento.
“Em concelhos rurais como o de Alandroal todos sabemos a diferença entre o ovo de capoeira e o de supermercado, todos temos alguém que ainda faz uma horta e sabemos que estamos a consumir algo especial. Queremos que esse ‘especial’ venha para os nossos restaurantes e seja um fator diferenciador do que temos para oferecer”, refere o presidente da Câmara de Alandroal, João Grilo, evocando o lema do evento “somos o que comemos”.
Segundo o autarca, o festival permitirá “juntar cultura, gastronomia e artesanato”, tirando partido do que a terra dá e promovendo a reflexão “sobre o modo como consumimos e como isso influencia o ambiente e as nossas vidas”. O desafio, acrescenta, é que os visitantes “sintam que estão a consumir próximo da fonte de produção, que estão a consumir natural, que estão a consumir aquilo que o território tem para dar”, no tempo certo e sem utilização de produtos químicos.