Dizer que António Pista faz viticultura regenerativa é dizer muito, mas obriga a uma explicação adicional “Tudo aqui está em equilíbrio, temos o sobro e o azinho, que já cá estava, depois a vinha e a erva entre as videiras, um ecossistema vivo”, diz o produtor, que chegou ao mundo dos vinhos quase que “por acaso”, sem qualquer tradição familiar.
Antes desse percurso pessoal, uma nota mais sobre o que é isto de agricultura regenerativa, sem utilização de herbicidas ou pesticidas: “Se fizermos uma análise às nossas uvas”, garante António Pista, “não encontramos resíduos químicos, a uva vai para a adega no mais puro estado possível”. O que, convenhamos, faz toda a diferença. Acresce que a vinha está instalada num terreno argilo-calcário, a 400 metros de altitude, junto a Alter Pedroso.
“Quando fizemos análise de solo vimos que o terreno não precisava de muitas correções, estava perfeito para a plantação da vinha”, conta o produtor, acrescentado que a existência de água foi outro “bónus”, pois o sistema de rega ficou garantido. “Temos aqui as condições quase perfeitas, e a forma como tratamos da natureza dá-nos alguma segurança para o futuro”.
No momento em que conversamos, início de junho, António Pista concilia este projeto pessoal com as tarefas de export manager [responsável pelas exportações] da Lindeborg, empresa com produção de vinhos nas regiões do Tejo, de Lisboa e do Alentejo. Quando estiver a ler este artigo, caro leitor, já foi promovido a gestor de todo o grupo, com a missão de “expandir a sua presença no mercado internacional de vinhos”. Alter Pedroso, ou melhor, os vinhos Tapada da Fonte, continuam a ser o seu projeto pessoal. Uma ideia que começou a ganhar forma em plena pandemia.
Comprou o terreno em maio de 2020, estava a mulher grávida de seis meses. A filha, Carminho, nasceu a 30 de setembro, numa altura em que a vinha já estava plantada. Depois o mundo parou, mas as plantas cresceram e começaram a dar uvas. A primeira vindima foi a de 2022. “Esse tinto é desse primeira produção”, diz-nos António Pista, explicando que o projeto foi “desenhado” a pequena escala, não mais de 12 referências, cerca de 38 mil garrafas por ano.
A marca, essa, decorre do nome do terreno onde a vinha está plantada: a Tapada da Fonte. “O objetivo é manter estas gamas sempre com um perfil semelhante, e depois começar a entrar nos monocastas, seja Arinto ou Touriga Nacional, que vinificámos este ano, ou outras, para mostrar o que a nossa vinha nos dá”, revela o produtor.
Sendo um projeto vitivinícola com apenas quatro hectares, construir uma adega, assegura, seria “hipotecar o futuro de filhos e netos”. Daí que essa nunca tenha sido uma opção. Quis o destino que se cruzasse em Paris com o enólogo Joachim Roque, proprietário de uma adega onde vinifica para projetos de pequena dimensão, “micro vinificações”.
Digamos que foi o “casamento” perfeito, com uma concordância absoluta sobre o perfil dos vinhos. Os reservas branco e tinto já estão em barrica. A gama será completada com um garrafeira: “Vamos esperar que esta vindima nos dê a qualidade que queremos para o fazer”.
No mercado já estão dois monocastas Tapada da Fonte – Arinto e Touriga Nacional, da colheita de 2023. Posteriormente irão sair outros, Alicante Bouschet, Syrah e Petit Verdot, nos tintos, Arinto, Alvarinho e Verdelho, nos brancos. A produção destas monocastas será sempre limitada, em torno das mil garrafas.
Hoje damos destaque a dois dos vinhos colheita, o branco e o rosé. O Tapada da Fonte branco 2023 combina Alvarinho, Arinto e Verdelho, as castas brancas da propriedade. Mostra-se ainda bastante jovem, como notas cítricas e com uma surpreendente frescura, reflexo do terroir da região
Já o Tapada da Fonte Rosé 2023 é um blend de Touriga Nacional e Syrah. É um vinho inesperado pela frescura e pela contenção na fruta. Segundo António Pista foi projetado logo de início este perfil com o enólogo, Joachim Roque, tendo ficado assente que iriam “esquecer aquela fruta, aquele doce que nós sentimos à partida no primeiro copo, se calhar, até é bom, mas depois enjoamos”.
Portanto, o objetivo foi criar um rosé “sério”. Encontramos alguma fruta, “mas se calhar até tem mais aqui um floral, tem um próprio herbáceo que não é próprio do rosé. Portanto, eu acho que aqui o que nós queremos é dar alguma complexidade aos nossos vinhos”.
Em suma, um novo produtor alentejano com vinhos surpreendentes e que pode atingir um patamar cimeiro quando a vinha chegar à maioridade.
TAPADA DA FONTE BRANCO 2023
Vinho Regional Alentejano Pista Wines
Castas: Alvarinho (40%), Arinto (40%) e Verdelho (20%)
Vinho de cor amarela com laivos es- verdeados. Aroma fresco, mas contido, com notas citrinas. Na boca mostra bom equilíbrio e estrutura, mantendo-se o ambiente de contenção e seriedade, o que lhe augura uma boa evolução em garrafa e boa apetência gastronómica. 12,5% vol. / PVP: 11.50 euros
TAPADA DA FONTE ROSÉ 2023
Vinho Regional Alentejano Pista Wines
Castas: Touriga Nacional (70%) e Syrah (30%)
Vinho de cor salmão claro. No aroma surgem notas florais, algum herbáceo e frutos do bosque. Na boca é sério, fresco e com boa textura e estrutura, deixando-nos a boca a salivar. Tem alguma untuosidade e um final longo e seco.
12,5% vol. / PVP: 11,50 euros