Terras sem Sombra celebra o diálogo entre Portugal e Filipinas em Castelo de Vide

Entre vozes de excelência, paisagens naturais e património renascentista, o Festival Terras sem Sombra convida a uma experiência única em Castelo de Vide, onde a arte coral filipina se junta à biodiversidade da Serra de São Mamede e à memória de Garcia de Orta.

Numa celebração de diálogo, encontro e interculturalidade, o Festival Terras sem Sombra (TSS) apresenta-se em Castelo de Vide, dias 7 e 8, com a promessa de um concerto memorável, evocação de Garcia de Orta e um passeio à descoberta das ervas medicinais e aromáticas da Serra de São Mamede.

Antecedendo o fim de semana de música, cultura e salvaguarda da biodiversidade, a Casa do Alentejo, em Lisboa, acolheu uma apresentação do programa do TSS em território norte-alentejano. Oportunidade para António Pita, autarca castelo-vidense, destacar a “ligação de cinco anos entre o município e o Festival Terras sem Sombra, uma iniciativa que tem contribuído para o crescimento cultural do concelho”. E acrescentou: “este é um festival de valor inquestionável no que toca à coesão territorial”.

Paul Raymund P. Cortes, embaixador da República das Filipinas em Portugal, endereçou o convite a “todos os que se quiserem juntar às celebrações do Dia da Independência das Filipinas em Portugal. Em terras lusas, será a primeira vez que as Filipinas levarão a sua cultura a outros territórios que não Lisboa”.

Por seu turno, José António Falcão, diretor-geral do TSS, sublinhou o “momento único a criar pontes entre duas culturas, a portuguesa e a filipina, numa das mais fantásticas vilas do nosso país”. O também historiador de arte destacou um dos pontos altos do fim de semana: o concerto na noite de 7 de junho, entregue às vozes “magistrais” de The Philippine Madrigal Singers.

“A tradição do canto coral nas Filipinas é profundamente enraizada na herança cultural e religiosa do país. Os coros filipinos destacam-se pela combinação de disciplina técnica, expressividade e riqueza vocal, sendo reconhecidos internacionalmente pela sua qualidade artística”, refere.

A 7 de junho (21h30), a igreja matriz de Castelo de Vide abre as portas ao concerto “À Volta do Globo: Música Para os Novos Tempos”. Fundado em 1963 pela professora Andrea O. Veneracion (Artista Nacional para a Música, 1999), e atualmente dirigido por Mark Anthony Carpio, os The Philippine Madrigal Singers são reconhecidos pela Unesco como “Artists for Peace”.

Mark Anthony Carpio, diretor musical, pianista e contratenor, elevou o grupo a novos níveis de excelência. Sob a sua liderança, venceu competições internacionais de prestígio, como o Florilège Vocal de Tours (2006), o European Grand Prix for Choral Singing (2007) e, em 2017, o Concorso Polifonico de Arezzo. O professor Carpio integra a Universidade das Filipinas e atua regularmente como jurado em concursos corais internacionais.

Do repertório da noite de sábado, há a destacar o ecletismo, no cruzamento da música sacra contemporânea, das tradições populares filipinas e de expressões culturais de várias regiões da Ásia com as vanguardas europeias. Um alinhamento musical a reunir composições de forte identidade nacional com arranjos corais de canções promotoras do diálogo entre herança e inovação. Dos compositores homenageados no concerto, importa salientar Gianpaolo Eleria, Eudenice Palaruan, Ryan Cayabyab e Levi Celerio.

De Garcia de Orta à exploração botânica

No programa preparado com toda a minúcia pelo TSS para Castelo de Vide, salienta-se a visita ao património, sábado, 7 de junho (15h00), subordinada ao tema “Não Hei-de Dizer Senão a Verdade: Garcia de Orta no seu Museu”.

Com ponto de encontro nesta instituição, a atividade conta com a participação de Teresa Nobre de Carvalho, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O Centro de Interpretação Garcia d’Orta, instalado nas antigas Termas de Castelo de Vide — edifício projetado por Ernesto e Camilo Korrodi em 1942 —, evoca um vulto nacional, cristão-novo, nascido na vila e figura maior do Renascimento português.

Médico, naturalista e humanista, destacou-se pela sua leitura empírica da História Natural e pela valorização da observação direta. Após exercer medicina em Portugal, partiu para a Índia, onde produziu a obra-prima “Colóquios dos Simples e Drogas da Índia” (1563).

A manhã de domingo, 8 de junho (9h30), será preenchida com a visita sob o tema “Entre a Medicina e a Gastronomia: Plantas Terapêuticas e Aromáticas da Serra de São Mamede”. Com ponto de encontro no Jardim Grande (Parque João José da Luz), a atividade tem como orientador o biólogo João Farminhão, investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

A botânica da Serra de São Mamede constitui um tesouro que alia biodiversidade, saber tradicional e potencial científico. Nesta região de transição entre o Alentejo e as Beiras, onde o relevo montanhoso e o microclima mais húmido criam condições únicas, florescem espécies como o rosmaninho (Lavandula stoechas), o alecrim (Rosmarinus officinalis), a erva-cidreira (Melissa officinalis) e a perpétua-das-areias (Helichrysum stoechas). Há muito usadas na medicina popular — em infusões, unguentos e defumações —, estas plantas encerram compostos com propriedades anti-inflamatórias, anti-sépticas e sedativas, sendo hoje objeto de investigação científica e valorização económica.

Em paralelo às atividades do TSS na vila do norte alentejano, decorre um programa de cariz cultural promovido pela Embaixada da República das Filipinas e que inclui o “mercadinho filipino e local”, com mostra e prova da gastronomia filipina, animação musical e jogos tradicionais. Um encontro de 6 a 8 de junho no Jardim Grande, Parque João José da Luz.

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