Texto inédito de José Frota sobre a fundação do semanário “A Defesa”

Texto até agora inédito do falecido jornalista José Frota, inserido no manuscrito "A Imprensa Periódica Eborense" (1860-1980).

Quando o Alentejo [segunda edição, 1914/15] desaparece, já o Centro Católico Português em Évora e a respetiva diocese tinham na forja um jornal semanário que divulgasse os ideais políticos e religiosos da Igreja. Propriedade da empresa Gráfica Eborense, o novo periódico recebe o nome de A Defesa, título recolhido de um periódico italiano que pugnava pelos mesmos valores e que, na altura, tinha grande sucesso e aceitação naquele país.

No seu número inaugural, de 18 de março de 1923, propõe-se preencher uma lacuna no jornalismo eborense já que existem “jornais que com denodo e brilho hasteiam a bandeira deste ou daquele partido ou sem feição partidária defendem os ideais locais ou regionais”; contudo, “nenhum se propõe propriamente defender e propagar os ideais religiosos que, como até oficialmente é proclamado, são abraçados e professados pela grande maioria dos portugueses”.

Acrescenta o texto: “Há pois uma forma bem característica da mentalidade nacional, que não tem no nosso meio uma voz que a traduza, um paladino que de peito feito por ela terce as armas, uma tribuna onde se apregoem a suas conquistas. Será A Defesa essa voz, esse paladino, essa tribuna”.

O advogado Varela Lopes, com escritório aberto no Largo da Sé, será o seu primeiro diretor e editor, mas a partir do número 13 deixa esta última função para o escrivão de direito José Domingos Mariano. O adeus de Varela Lopes ao cargo de diretor concretiza-se ao número 87, de 18/1/1925, sem que A Defesa faça qualquer alusão ao facto. No cabeçalho do jornal deixa de aparecer mesmo a referida função, que é substituída pela do redator-chefe.

O novo cargo é atribuído ao velho cónego de 73 anos de idade, José Augusto Neves, homem bom e de grande cultura, além de orador consagrado. Percebia-se que se tratava de uma solução temporária, mas o certo é que A Defesa só voltou a ter diretor em 1929.

Acrescente-se ainda que, logo no seu primeiro ano de existência, os católicos eborenses criaram a Associação Nun’ Álvares, que esteve na origem do colégio do mesmo nome, o qual teve algum prestígio em Évora, sendo extinto já na última década do século XX.

Na sua edição de Natal de 1923 era dada a notícia de que estava “organizada nesta cidade uma associação patriótica com o título do maior herói da nossa pátria – o Santo Condestável. (…) A ação principal da Associação Nun’ Álvares será promover ou intervir em atos de culto católico de carácter patriótico ou em atos civis com o mesmo carácter, tais como conferências sobre os grandes factos da história nacional, lições públicas de histórica, sessões solene patrióticas, etc.”. A ideia de um colégio católico dedicado ao ensino secundário surgiria um pouco mais tarde.

Fotografia: © Arquivo | Agência Ecclesia

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