Ainda não existe solução para o restauro do Castelo de Veiros. Ou melhor, solução haverá, não se sabe é quem paga. Um troço da muralha, com cerca de 10 metros de comprimento, ruiu em dezembro de 2022, na sequência de uma forte chuvada que se abateu sobre a região. Na altura, como veremos, um relatório técnico apontou para o perigo de novas derrocadas. Sucede que, passados quase dois anos, as pedras continuam no chão, e o risco ter-se-á agravado.
Em causa, segundo o presidente da Câmara de Estremoz, está a necessidade de um investimento na ordem de 1,5 milhões de euros. “É um problema grave que estamos com dificuldade em resolver”, disse José Daniel Sádio. Às dificuldades financeiras somam-se as que decorrem da propriedade do Castelo: é privado.
Projeto do mestre de obras Pedro Abrolho, a torre de menagem começou a ser construída em maio de 1308, a expensas da Ordem de Avis. Segundo o historiador Manuel Branco, ao longo de mais de 700 anos de História, o Castelo resistiu a ataques como o de 1381, no contexto de guerras com Castela, ou no âmbito da Guerra da Restauração, durante a qual a torre de menagem foi totalmente destruída por uma explosão “ordenada por D. João de Áustria, para castigar a resistência armada da população”.
Por testamento da condessa de Cuba, D. Maria Francisca da Câmara e Lencastre, em março de 1956 o Castelo entrou na posse da Fundação do Asilo de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Veiros, sendo no ano seguinte classificado como Imóvel de Interesse Público. Nem isso evitou uma progressiva degradação do conjunto. O último “restauro geral” data de 1936. E a Fundação diz agora não ter meios para proceder à realização das obras. A solução, várias vezes apontada pelo presidente da Câmara, passaria pela concessão do Castelo de Veiros ao Município, que realizaria as obras pagas pelo Estado.
Um relatório elaborado semanas depois da derrocada por um técnico da ex-Direção Regional de Cultura do Alentejo já alertava para o perigo de virem a ocorrer situações idênticas e para a necessidade urgente de se procederem a trabalhos de “escoramento e proteção” da muralha.
Assinado pelo arquiteto João O. Pires, o relatório identifica o risco “do pano interior” da muralha e dos “topos remanescentes” na zona onde se verificou o colapso também virem a ruir, o mesmo sucedendo com os cubelos (torreões) e com uma torre quadrangular que lhe é próxima, o relator recomenda a interdição do caminho a norte e a poente da muralha de Veiros, encontrando-se percursos alternativos para acesso aos terrenos aí localizados.
No documento é também defendida “a urgente necessidade de se proceder ao escoramento e contenção dos elementos remanescentes e em risco”, recorrendo a uma torre de contenção e a andaimes para “envolver os topos da muralha não compassados, o pano interior e as alvenarias em risco”, trabalhos a realizar “com base em estudo específico de avaliação de riscos” e projeto elaborado por uma equipa especializada. Acresce que nas torres são visíveis fissuras e “abatimentos” de cobertura que tenderão a “agravar-se” devido à infiltração de água.
“As pessoas muitas vezes têm a ideia errada de tudo isto carecer de pouca manutenção pois são materiais inertes”, lamenta Pedro Nunes da Silva, coordenador do grupo Cidade – Cidadãos pela Defesa do Património de Estremoz, chamando também a atenção para o mau estado de conservação das muralhas de Estremoz: “Há inclusivamente figueiras a sair das muralhas, toda esta vegetação cria espaços entre as pedras, isso origina infiltrações de água e, no final, há o risco desses troços sucumbirem, como aconteceu em Veiros”.