Um estudo coordenado por Lara Guedes de Pinho, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora e investigadora do Comprehensive Health Research Center, um centro de investigação destinado a desenvolver e promover investigação clínica, de saúde pública e de serviços de saúde, revelou dados preocupantes sobre a saúde mental dos estudantes do ensino superior.
O estudo iniciou a recolha de dados a 10 de outubro de 2022 e repetiu esta recolha em 2023, envolvendo neste último ano 2.136 alunos de seis universidades portuguesas. Os resultados indicam uma prevalência preocupante de sintomas depressivos e ansiosos, com quase 23% dos estudantes a referirem estar diagnosticados com uma doença mental. Destes, 49,7% referem ter sido diagnosticados após a pandemia de covid-19.
Entre os problemas de saúde mental mais mencionados, a ansiedade lidera com 19,4%, seguida da depressão com 13,3%. O estudo mostrou ainda que 38,9% dos estudantes sofrem de sintomas depressivos que variam de moderados a severos, com 7,2% apresentando sintomas graves. Como agravante, 11,8% referem ter pensamentos acerca de que estaria melhor morto ou de se ferir a si mesmo de alguma forma.
Segundo Lara Guedes de Pinho, mantém-se a tendência em relação ao ano de 2022, embora com um ligeiro aumento na gravidade dos sintomas, sendo as universidades “estão já a tomar algumas medidas, nomeadamente com atividades promotoras da saúde mental e reforço do apoio psicológico aos estudantes, mas é necessário um reforço externo às universidades”.
De acordo com a investigadora, “muitos dos problemas surgem antes da entrada para a universidade, pelo que devem ser tomadas medidas também no ensino básico e secundário, bem como haver uma estratégia de promoção da saúde mental desde a infância nos cuidados de saúde primários e nas escolas”.
Além disso, quando questionados sobre o impacto desses problemas no desempenho académico e na vida pessoal, 31,5% relataram dificuldades significativas. Os sintomas ansiosos também são uma realidade para 39,2% dos estudantes, que se classificam entre moderados e graves.
O estudo também destaca que o sexo feminino e os estudantes de menor nível socioeconômico, especialmente aqueles que vivem deslocados de suas casas, são os mais afetados. Questionados sobre a quem recorreriam se necessitassem de ajuda, a maioria refere que conversaria com os amigos (75,4%), seguida de psicoterapia (40%), porém, somente 26,4% dos alunos recorreriam ao aconselhamento psicológico oferecido pela universidade.
A investigadora do Comprehensive Health Research Centre (CHRC) da Universidade de Évora acrescenta que tendo em conta os dados “revela-se de extrema importância capacitar os pares para a primeira ajuda em saúde mental e para o encaminhamento para especialistas em caso de necessidade”.
Os motivos mais citados para a não procura de ajuda foram os custos elevados (62,6%) e o longo tempo de espera para conseguir uma consulta (54,7%). Para Lara Guedes de Pinho, esses dados revelam a urgência de políticas de saúde mental mais acessíveis e eficazes não só no meio universitário, mas também com respostas ao nível do Serviço Nacional de Saúde.
O estudo sublinha ainda a necessidade de atenção redobrada à saúde mental dos estudantes, um problema crescente que foi agravado pela pandemia e que merece mais atenção das instituições de ensino e das autoridades de saúde.