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Uma Casa-Museu para conhecer as múltiplas artes de João Fortio

Há um novo espaço de arte e cultura na cidade de Estremoz. Na sua Casa-Museu recentemente inaugurada, João Fortio abre as portas à divulgação da sua obra multidisciplinar, enquanto desenhador, pintor, ceramista e escritor, mas também aos amigos e à memória. Mariana Miguéns (texto e fotografia)

João Manuel Fortio nasceu a 12 de dezembro de 1951 em Estremoz. Filho de Arménio João Marvão Fortio, natural de Veiros, e de Aida Leonisa da Graça Pires, natural da então freguesia de São Saturnino, no vizinho concelho de Fronteira, diz ter tido a “felicidade” de ter como professor de desenho o pintor Espiga Pinto que logo lhe transmitiu o seu fascínio pelas artes. Foi naquele momento que “nasceu” a sua paixão pela criação artística.

No Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE) tirou o curso de design de interiores e a vocação artística não arrefeceu com o serviço militar, antes pelo contrário, tendo aproveitado esse período para frequentar o curso de fotografia e cinema dos Serviços Cartográficos do Exército. Depois veio a docência, foi professor de educação visual e de educação visual e tecnológica na Escola Sebastião da Gama, funções que desempenhou a partir de 1978 e até 2008.

Desenhador, pintor, ceramista e escritor, hoje todas estas formas de expressão completam-se, numa atividade artística e cultural que o leva por diversos caminhos. Na cerâmica, por exemplo, começou por se dedicar aos Bonecos de Estremoz – talvez fosse inevitável, tendo em conta este património único -, recriando os “Bonecos da Tradição”. Depois, criou outros modelos, recriou também pratos típicos alentejanos em cerâmica, isto entre 1982 e 1996, partindo depois para a arte do azulejo. Montou ateliê na sua residência, mas dali transitou para o Largo Dom Dinis e acabou por se fixar na Horta do Forinho, em São Bento do Ameixial.

João Fortio conta com inúmeras participações nas Feiras de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, como artista bonequeiro e azulejista. Ensinou cerâmica na Escola Profissional da Região Alentejo, tendo ainda criado o programa de cerâmica para o 2º ciclo do Ensino Básico com o objetivo de criar esta disciplina como oferta de aprendizagem, tentando motivar e incentivar os jovens estremocenses a gostar de arte, no geral. Na condição de ceramista é membro fundador da Associação de Artesãos do Concelho de Estremoz.

Para a definição da suaidentidade artística muitos contribuíram, faz referência a Picasso, Almada Negreiros e claro, professores como Espiga Pinto e Lima de Freitas. Além de artista plástico é escritor, tendo publicados trabalhos como “Orvalho do Sol” (2008), “Demasiado/too much” (2008), “Promontório da Utopia” (2011), “Livro dos Prefácios 1” (2011) e “Cento e tal Sonetos” (2012). Como diz, é toda uma bibliografia “editada e pronta a editar”. Não por acaso, num dos seus inúmeros ofícios abraçou o jornalismo no “Brados do Alentejo” e no “Eco de Estremoz”, onde foi repórter desportivo e escreveu sobre acontecimentos quotidianos da cidade.

Este ano, finalmente, conseguiu realizar um sonho já antigo, o de criar um espaço seu, aberto ao público. Assim, de um simples ateliê nasceu a Casa-Museu João Fortio. Situado no Largo do Castelo, em Estremoz, o espaço já se encontra aberto a visitas, reunindo um pouco de toda a produção artística do proprietário, da cerâmica à literatura ou à pintura.

“Tem um bocadinho de tudo, de tudo o que quis guardar. Está aqui desde o meu primeiro livro aos meus passarinhos, os meus bonecos de barro, os meus quadros preferidos… enquanto tiver peças para vender, vou vendendo, mas há coisas que deixei de fazer e que não vou vender, estão apenas de exposição para quem as quiser ver. Depois, quando já não estiver por cá, os meus filhos continuarão com a casa aberta”, diz João Fortio, indicando que esta nova etapa da sua vida permitir-lhe-á aproveitar a reforma para “refazer” alguns trabalhos que se arrepende de ter vendido, mas também para acabar de escrever o seu próximo livro, o que requer tempo já que se trata de uma tarefa complexa, na qual à escrita se soma a paginação, edição, criação da capa e até a encadernação da obra.

“Já há muito tempo que sou eu que faço todo o processo da criação de um livro, desde capa ao conteúdo. Primeiro escrevi os textos, em seguida desenhei um quadro para ser capa do livro, fosse qual fosse, todas as capas tem um desenho, neste caso um quadro meu, todos esses quadros são meus, alguns ate já fiz alterações porque pensei no que podia melhorar”, conta João Fortio, lembrando uma antiga impressa a três dimensões em que, mal acabava de desenhar, imprimia a capa “para conseguir fazer um ensaio” e apurar o resultado final. “Alguns destes livros, que lhe mostro, nunca foram lidos por ninguém para além de mim, nem pelos meus filhos, nunca foram editados. Simplesmente, pensei, escrevi, imprimi e guardo-os até hoje”, conclui.

SALA DE LEITURA

No futuro, João Fortio pre- tende criar uma sala de leitura dentro da Casa-Museu, destinada a amigos e visitas, mas em especial a quem tenha curiosidade de ler os seus trabalhos. Será um espaço de partilha de leituras, mas também sentimentos, emoções ao redor de cada um, numa sala marcada pela arte, também pela vida e pelas memórias do artista, num espaço que não deixa ninguém indiferente.

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