Não é necessária grande reflexão, nem sequer consultar especialistas internacionais ou andar pelos arquivos a estudar trabalhos académicos. Basta uma simples pergunta a esse programa de inteligência artificial que dá pelo nome de ChatGPT. Ora diga-me, caro bot, por que raio é a imprensa regional relevante nesta sociedade de início do século?
Do nada surge a resposta: “A imprensa regional oferece uma plataforma para a expressão das comunidades locais, permitindo que as preocupações, necessidades e interesses específicos das pessoas numa determinada região sejam ouvidos, pois garante que as questões locais, muitas vezes são ignoradas pelos media nacional, ganhem destaque”.
Gostei do desenho. Também é necessário ter em conta outras questões, como o facto de a imprensa de Lisboa ter vindo a perder leitores, a desligar-se do território e a centrar-se na bolha mediática, entre as perceções de São Bento e os negócios do PSI-20, mais as intrigas do futebol, repetindo à exaustão a cartilha da narrativa única que tomou conta de grande parte do espaço mediático… e, com isso, perdendo leitores e mais leitores.
O interior só lhes interessa pelo pitoresco, quando há crime e desgraças, para preencher tempo e encher páginas com uns festivais de gastronomia, umas coisas “porreiras” e pouco mais. Ah, e também serve de palco quando os senhores do poder ou da oposição precisam de cenário para aparecer, quase sempre a falar de assuntos que nada nos dizem. Apanha-se o Marcelo em Freixo de Espada à Cinta e vá de lhe perguntar sobre a rixa da Rua do Bem Formoso, que afinal até foi no Intendente, mas dá jeito dizer que foi no Benformoso, e esquecer coisa idêntica no Chiado, que aqui a cor da pele é outra.
Em vez de ficar, como a bela Inês, “posta em sossego”, de sua nobre expressão “colhendo doce fruto”, o raio da inteligência artificial ainda se sai com outra, assegurando que a existência de uma imprensa regional “sólida e independente é essencial para o funcionamento da democracia, pois oferece aos cidadãos as ferramentas necessárias para tomar decisões informadas, participar ativamente do debate público e exigir melhores políticas locais”.
À partilha desta síntese, acrescento outra, retirada de um estudo académico, “Jornalismo regional na era digital: o novo panorama das redações e dos profissionais”, de Adriano Ribeiro (Universidade da Beira Interior), que lembra o óbvio: “A imprensa regional e local deve respeitar as mesmas regras, normas, ética, isenção e profissionalismo associadas à imprensa de maior escala. Por isso, o facto de a sua área de intervenção ser menor não deve ser sinónimo de um jornalismo de menor qualidade”.
Nas publicações que dirijo, esta Alentejo Ilustrado e o Brados do Alentejo, que celebrou agora 94 anos de vida, não vamos em cantigas, nem em cantos de sereia, assumindo as nossas responsabilidades editoriais no contexto regional, no respeito pelas mais rigorosas práticas e normas éticas da profissão. E que o faremos tanto melhor quanto empresas e instituições assumirem o seu papel, não tratando por igual o que é desigual.