Juntos pelo Divor contra impacto “indefensável” de megacentrais em Évora

A plataforma cívica Juntos pelo Divor – Paisagem e Património dirigiu-se formalmente à administração da Hyperion Renewables Energy para contestar a instalação de duas centrais fotovoltaicas na zona da Graça do Divor e freguesias vizinhas, no concelho de Évora, defendendo a sua deslocalização e alertando para impactos “irreversíveis” no território.

Os dois empreendimentos, ambos promovidos pela Hyperion, somam-se a uma terceira central fotovoltaica, já formalmente em fase de execução, da empresa Incognitworld 3. No total, as três ocupam uma área superior a 1.800 hectares, com uma potência instalada de cerca de 1.000 megawatts pico (MWp).

A carta, assinada pelos representantes da plataforma Ana Barbosa e Marcial Rodrigues, resulta de uma reunião realizada em julho, em Évora, entre a Juntos pelo Divor e as empresas Hyperion e Sair da Casca.

No texto, o movimento lembra ter lançado uma petição pública contra a instalação destas centrais – “que recebeu 2.130 assinaturas, quando ainda eram apenas dois os projetos previstos” – e participado nas consultas públicas relativas às propostas de definição de âmbito do projeto CFV da Graça do Divor e do projeto Sol de Évora, “que agora sabemos estar a ser desenvolvido também pela Hyperion”.

A plataforma refere ainda ter subscrito, juntamente com outros movimentos cívicos do Alentejo, uma carta aberta ao Governo e à Assembleia da República, onde “se expressa claramente uma posição conjunta” sobre o que considera ser “uma política justa para a transição energética”.

Para a Juntos pelo Divor, “ambos os projetos em apreço são indefensáveis numa região como a do concelho de Évora”. E justificam: “Não se trata de um lugar qualquer. Os vossos projetos não têm em conta realidades cuja destruição não pode ser evitada, mitigada ou compensada por qualquer medida que se proponham implementar”.

Entre essas realidades, a carta aponta a classificação de Évora como Património da Humanidade, “com um equilíbrio urbano-rural raro”, a presença de um “riquíssimo património arqueológico, que não pode ser isolado da sua envolvente”, e uma “biodiversidade que é reconhecidamente incompatível com projetos desta envergadura e relativamente aos quais deveria ser obrigatória a aplicação do princípio da precaução”.

O movimento destaca também atividades económicas que considera ameaçadas: “agricultura, pecuária, exploração do montado como floresta de uso múltiplo, turismo rural, turismo de natureza, turismo cultural e enoturismo”, todas passíveis de serem “muito prejudicadas, quando não destruídas, por estes megaparques” solares.

E acrescenta que “mais de 20 mil das 50 mil pessoas que habitam o concelho de Évora” seriam diretamente afetadas “nos modos de vida, nos investimentos, na saúde e na qualidade de vida”, acusando a Hyperion de nunca ter apresentado “uma compreensão mínima destas realidades e uma consequente busca de alternativas para a localização destes empreendimentos”.

A plataforma critica ainda o facto de, perante as exigências da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para o projeto inicial, a empresa ter alargado a área de estudo apenas para, “logo de imediato”, assumir “praticamente na mesma área, um novo projeto que duplica o conjunto constituído pelo inicial e pelo projeto vizinho da Incognitworld 3, cuja existência é quase sempre por vós ignorada”.

Segundo o movimento, “não há uma única voz concordante com estes projetos”, nem a própria APA “aceitou vincular-se” às propostas de definição de âmbito do Estudo de Impacto Ambiental, tendo a agência salientado “a necessidade de serem devidamente analisados e ponderados” os resultados da consulta pública.

Considerando a reunião “dececionante”, a carta acusa a empresa de agir “como se estivéssemos perante um facto consumado. E não estamos”. 

De acordo com a Juntos pelo Divor, “há alternativas” a esta localização, propondo a instalação de “uma nova subestação ao longo da atual linha de 400 kV de interligação da Subestação do Divor” para a ligação à rede elétrica, sublinhando que o custo seria “pouco significativo face ao investimento em causa”.

Aponta também critérios que, no seu entender, deveriam guiar a instalação destes empreendimentos no Alentejo: “Centrais com um máximo de 50 MW de potência instalada, distando entre si um mínimo de 10 quilómetros”.

O documento termina com um aviso: “Vamos lutar por todos os meios para que estes projetos sejam deslocalizados. É com toda a convicção que os recusamos. Pelo atentado que constituem a todos os valores e interesses acima referidos e pelos riscos […] que advêm para a própria classificação de Évora como Património da Humanidade”.

Fotografia | Arquivo/D.R.

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