Noel Moreira (CDU): “Com cantigas e bolos se enganam os tolos”

Cabeça-de-lista da CDU à Câmara de Estremoz, Noel Moreira acusa o PS de deixar “muito por fazer” no concelho. Lamenta o abandono do Bairro de Santiago, falhas na habitação e a ausência de estratégia para resolver os problemas do abastecimento de água. “Com cantigas e bolos se enganam os tolos”, dispara o candidato comunista,

Porque decidiu avançar com a candidatura à Câmara de Estremoz?

O projeto da CDU é um projeto diferenciado das demais candidaturas; único pelo que defende e pela forma como atua. Podemos afirmá-lo, de peito aberto e de cara lavada, que nem hoje, nem no passado, colocamos os interesses pessoais à frente dos interesses dos estremocenses, de Estremoz e de todas as suas freguesias, mas também do Alentejo enquanto território uno, embora com especificidades locais. A candidatura da CDU aos diversos órgãos do poder local democrático é vista como um exercício coletivo de construção de um projeto, no qual me incluo e com o qual tenho um compromisso. Sou uma peça do ‘puzzle’, tal como os restantes camaradas e amigos, comunistas, ecologistas e outros democratas que, sendo partidariamente independentes, veem na CDU um espaço de reflexão e compromisso honesto, competente e de trabalho. É por me reconhecer neste projeto, por sentir que a representação da CDU faz falta em todos os órgãos, por reconhecer que o projeto da CDU é diferenciado, composto por homens e mulheres intrinsecamente preocupados com o território, por considerar que o coletivo (neste caso os estremocenses e o seu território) está acima do indivíduo, por sentir a confiança que os meus camaradas e amigos afirmam sobre o meu encabeçamento à lista concorrente ao Executivo camarário, que decidi avançar, aceitando este desafio. A CDU parte convicta de que o seu projeto faz falta ao concelho e, por isso mesmo, o objetivo traçado é claro: aumentar a nossa influência eleitoral no concelho, com maior representação da CDU nos mais diversos órgãos do poder local a que concorreremos. A nossa intervenção na Assembleia Municipal e nas assembleias e executivo de freguesia em que temos assento é prova do compromisso que temos com todo o concelho e com os estremocenses.

Como analisa o atual mandato do PS?

O PS tentou implementar o seu programa eleitoral mas, obviamente, esse não é o projeto da CDU. Se é verdade que em alguns campos podemos convergir, noutros temos uma visão bem diferente das prioridades que foram definidas. Começo por questões que consideramos positivas no mandato. Desde logo o reforço dos meios técnicos e dos equipamentos para o desenvolvimento das competências do Município, como a conclusão do novo estaleiro municipal, a renovação do parque de máquinas, a diminuição da precariedade entre os trabalhadores, a melhoria das condições do Teatro Bernardim Ribeiro e de outros edifícios (embora outros continuem sem intervenção à vista, como é o caso do Centro Cultural), tendo sido recentemente apresentado um plano para o novo pavilhão desportivo municipal que, embora tardio, chega ainda durante o presente mandato, ou a aprovação do Plano Diretor Municipal. E posso ainda acrescentar a execução de um conjunto de obras que vinham do anterior mandato, como são os casos do Largo General Graça e da área em frente ao Paços do Concelho, onde ocorre semanalmente o mercado de Estremoz, ou a criação de um fundo anual de 25 mil euros para que as freguesias pudessem avançar com obras que consideram estruturantes para o seu território.

E do outro lado da balança?

O mandato ficou muito aquém daquilo que são (ou deveriam ser) as prioridades para o Município. Se é verdade que os eventos culturais aumentaram, continuamos sem ter um Ciência na Rua (que o PS dizia no seu programa ser uma prioridade), evento diferenciador pelas suas características únicas, ou uma Cozinha dos Ganhões que é igual a tantos outros certames gastronómicos; em vez disso, temos um conjunto de eventos que são pouco diversificados e cada vez mais dispendiosos. Mas se a cultura até pode ser vista como um elemento de desenvolvimento do território, há outras prioridades. O Bairro de Santiago continua ao abandono e nada foi feito para a sua valorização e reabilitação. A Estratégia Local de Habitação, que foi reformulada logo no início do mandato, não saiu do papel. Continuamos sem um plano de reabilitação do sistema de abastecimento de água, mantendo a sua gestão pública – algo que o PS não quer –, embora tenham sido tomadas medidas importantes. A aceitação da transferência de competências na área da educação, que colocou a Escola Sebastião da Gama nas mãos do Município, trouxe consigo um conjunto de problemas estruturais nos edifícios sem ter sido negociado de forma prévia e concreta os meios técnicos e financeiros para a sua reabilitação. No plano das freguesias rurais,das freguesias de São Bento do Ameixial e de Santa Vitória do Ameixial, em muito devido à falta de vontade do executivo da junta do MiETZ, mas não devemos esquecer que nenhuma força, exceto a CDU andou no terreno a promover a sua devolução, estando ao lado das populações; todas as outras forças, PS incluído, deixaram andar… Em súmula, com cantigas e bolos se enganam os tolos.

O que fica do atual mandato?

Numa frase: fica muito por fazer, não se definindo de forma clara as prioridades para Estremoz e para os seus munícipes.

Os problemas no abastecimento de água e habitação têm sido os mais referidos ao longo do mandato – em que medida a resposta por parte do Executivo poderia ter sido diferente? 

São efetivamente dois problemas bicudos aos quais o Executivo não deu, no entender da CDU, as respostas necessárias. No caso do abastecimento de água, é necessário um plano de intervenção profundo, mas em momento algum pode ser colocada em causa a sua gestão na esfera pública – aliás, posição e compromisso assumido pela CDU. Efetivamente, e apesar de ainda não ter apresentado um plano formal, o PS quis (e quer) entregar a sua gestão a uma parceria publico-privada, com implicações e constrangimentos claros na resposta aos problemas existentes, bem como no aumento dos valores cobrados aos munícipes, aliás como aconteceu em concelhos próximos onde tal procedimento decorreu. Se é verdade que o investimento do Município aumentou na reabilitação da rede, estes são insuficientes face aos quase 20 anos de desinvestimento resultantes dos mandatos PS-MiETZ-PS. Não raras vezes o PS tentou colar a CDU ao estado da rede, mas relembro os mais distraídos que, apesar das limitações, uma grande parte do que hoje existe se deve às respostas dadas pelos executivos da CDU no pós-25 de Abril. No que respeita à habitação, de forma sucinta, nem avançou até agora a Estratégia Local de Habitação, que pretende dar resposta à habitação insalubre no concelho, nem a construção de um novo parque habitacional que dê resposta à falta de oferta a preços controlados em todas as freguesias. Até agora vimos intenções no papel, falta colocar no terreno estas promessas, até porque, uma parte considerável dos apoios concedidos expiram dentro em breve.

Que soluções propõe a CDU?

A CDU assumiu e continuará a assumir o compromisso com todos os estremocenses de que lutará pelo regular funcionamento de todas as entidades democráticas no plano local, estando no poder ou na oposição. Continuaremos a fiscalizar o trabalho de todos os autarcas e a propor soluções para os problemas e reivindicações das populações. Contudo, só com um reforço da posição eleitoral da CDU será possível avançar na defesa da água pública, pela luta por cuidados de saúde de proximidade, pela beneficiação da Escola Sebastião da Gama com os devidos fundos do Estado central, pela construção da variante de Estremoz, pela beneficiação do centro histórico, pela habitação, desde a construção de habitação a preços controlados na cidade e nas freguesias, mas também na criação de programas que foquem a requalificação do parque habitacional e do património no centro histórico da cidade… Há tanto por fazer… Aquilo que é o nosso compromisso para romper com 20 anos de estagnação no concelho é trabalho, honestidade e competência!

Em Estremoz há uma sensação estranha de que tudo se embrulha e demora muito tempo: a escola está por reabilitar, a nova circular é prometida há anos…

…e podíamos continuar: o projeto do novo pavilhão desportivo só agora viu o fim do dia, não há plano de reabilitação da rede de abastecimento de água, o centro histórico está ao abandono, ora veja-se o caso do Bairro de Santiago, a Estratégia Local de Habitação está por executar, as ETAR’s rurais continuam por fazer, etc… Como já disse, para que tudo não demore eternidades a ser executado, é necessário a definição de prioridades concretas, assentando-lhe um projeto, um caderno de encargos e uma calendarização realista. É necessário ainda o reforço da capacidade de captar financiamento, seja através de fundos próprios, regionais, nacionais ou europeus e executá-lo de forma célere. Será impossível fazer tudo ao mesmo tempo, dirá quem governou o concelho durante as últimas duas décadas. Será, obviamente! Mas sem estratégia, sem plano, sem a definição de prioridades, tudo o que acontece é avulso, aliás como tem acontecido, e como tal passarão mais um, mais dois, mais três mandatos sem que nenhum destas obras centrais ao desenvolvimento do território veja a luz do dia!

O CHEGA É “UMA MÃO-CHEIA DE NADA”

Como analisa a recente vitória do Chega nas legislativas em Estremoz? O que é que isto reflete?

É inegável o crescimento eleitoral desse partido nas eleições legislativas de 2025, bem como nas duas legislativas anteriores. É uma força antagónica àquilo que a CDU defende para a sociedade, isto é, eles não defendem uma sociedade justa social e economicamente, sem exploração do homem pelo homem, nem a igualdade de oportunidades para os mais desfavorecidos. O Chega é uma força populista, que defende as elites, mas que se aproveita do descontenta- mento, das justas reivindicações e preo- cupações das populações, mas que usa isso para se autopromover. Até apontam problemas, mas não apresentam solu- ções para resolvê-los. Contudo, a passagem e decalque dos resultados das legislativas para o campo autárquico não é linear e, se aqueles que votaram nesta força virem o que os eleitos do Chega fizeram ao longo do último mandato no plano autárquico, ficarão desiludidos. Nada foi apresentado, nada foi proposto, não questionaram os órgãos executivos pelas suas ações e práticas. No fundo, foi uma mão-cheia de nada; muita parra e pouca uva face à gritaria que promo- vem! Fizeram figura de corpo presente sem qualquer intervenção ou contributo que permitisse a melhoria da vida das populações do concelho. Isto reflete ao que vêm: eles não são contra o siste- ma, mas sim o pior que o sistema tem. A questão final que coloco: são estes os representantes que as populações que- rem nos órgãos de decisão?

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