O diagnóstico é duro: uma dívida que ultrapassa os dois milhões de euros, e uma associação empresarial praticamente inativa. Mas Tiago Braga, recém-eleito presidente do Nerpor – Associação Empresarial da Região de Portalegre, garante não se assustar com o cenário financeiro da instituição. “O Nerpor, quando a gente chegou, estava em insolvência, com dívidas na ordem dos dois milhões, por aí. Não temos o valor fechado”, admite o gestor, que promete um plano de reestruturação até ao final de agosto.
De origem portuense, Tiago Braga lidera um grupo empresarial ligado ao apoio a start-ups e a pequenas e médias empresas (PME), especializado em estratégias de financiamento e reestruturação. A ligação ao Alto Alentejo surgiu durante a pandemia, quando a empresa que dirige decidiu escolher terri- tórios do interior para instalar projetos empresariais.
Portalegre foi uma dessas escolhas, mas o primeiro contacto com a realidade empresarial local não foi animador. “Confesso que, até há bem pouco tempo, nem sequer sabia da existência do Nerpor”. Uma das empresas do grupo tentou associar-se, mas “nem sequer teve resposta”.
O desconhecimento e a ausência de uma entidade representativa ativa fizeram nascer a ideia de criar uma nova associação empresarial. “Quando surgisse uma oportunidade iríamos criar uma associação, nem que fosse apenas com a rede de empresários que estamos a trazer para cá, para o distrito, para conseguir fazer projetos em conjunto”.
Foi nesse contexto que surgiu a possibilidade de assumir a liderança da associação empresarial, criada em outubro de 1985. “De repente, vemos que afinal há uma associação em Portalegre que não está muito bem de saúde financeira. Ora, o nosso trabalho é reestruturar. É um dos nossos trabalhos: ajudar as empresas a reestruturarem-se. Isso não nos mete medo, se tivermos as soluções, as ferramentas, obviamente, e os meios”.
A decisão de avançar foi tomada após uma análise aos ativos e passivos da associação. “Aquilo que vimos no Nerpor foi uma organização com um potencial enorme, numa região onde os empresários têm necessidade que ela funcione em pleno. Vimos os ativos e os passivos e achámos que é possível recuperá-la, que a reestruturação financeira é possível”.
O trabalho, sublinha, será muito mais do que um exercício de engenharia financeira. “Toda a associação tem de ser reestruturada, tanto ao nível de procedimentos, seja reputação. É preciso devolver ao Nerpor aos empresários do distrito de Portalegre. É preciso que eles regressem à associação, percebendo que começámos uma vida nova há pouco mais de um mês”, afirma, rejeitando revisitar o histórico: “Não estou aqui para cobrar o passado. Quero um novo começo para a Nerpor”.
O novo presidente da associação quer apresentar, até final de agosto, um plano de reestruturação que permita ultrapassar a crise. “Financeiramente, há várias formas de se resolver. Uma é com entrada de capital através de empréstimo de algum sócio, por exemplo. É possível fazer dessa forma e depois, tendo a situação regularizada, a associação pode desenvolver a sua atividade e ter o seu retorno”.
Mas há também uma dimensão estratégica para além da recuperação financeira. “Temos um projeto diferenciador”. A primeira fase passa pela reativação dos serviços básicos de uma associação empresarial: apoio na criação de empresas, acompanhamento de processos de licenciamento, mediação junto de câmaras municipais, ou funcionamento de incubadora e aceleradora de negócios.
A partir de setembro, Tiago Braga promete ter essas funções mínimas em funcionamento. No entanto, o plano é mais ambicioso: “Acreditamos que o desequilíbrio que atualmente o país vive, entre os grandes centros urbanos e o interior do país, é corrigível. Entre as prioridades está o apoio à internacionalização das empresas do distrito e a atração de investimento para o Alto Alentejo. “A missão do Nerpor passa por, um, ajudar os empresários de Portalegre a escalar os seus negócios, internacionalizar os seus negócios, essa é uma das missões. A outra é trazer empresas para a região”.
Neste campo, o presidente da associação garante que os primeiros resultados já estão a surgir, com a instalação em Elvas de uma empresa oriunda de Angola. Outras estarão a caminho, incluindo uma do sector da defesa, vocacionada para produzir sistemas de laser com aplicação tanto na área militar como na agricultura e proteção civil. Há ainda um projeto na área dos materiais de construção em cânhamo que, segundo Tiago Braga, trará inovação ao mercado nacional.
Entre os problemas de fundo para atrair investimento inclui a falta de habitação. “Não há empresas no interior enquanto tivermos problemas de habita- ção. Quando queremos trazer uma empresa para o interior e falamos na necessidade de 50 trabalhadores, como é que os vamos alojar?” – interroga Tiago Braga.