Da Vidigueira a Pias, da Cuba à aldeia do Rosário ou a Castro Verde, Bissexto segue Bernardo Emídio, José Emídio e Ruben Lameira (Os Vocalistas) ao encontro de velhos cantadores, numa tentativa de “fintarem” a crise que bateu forte no setor da cultura, ensaiarem novas modas e, sobretudo, fazerem o que melhor sabem: cantar.
“É um trabalho que documenta uma afirmação de resistência perante a pandemia e o silêncio”, diz o realizador, Luís Godinho, segundo o qual o filme demonstra “a obstinação destes três músicos, que se recusaram a cruzar os braços no momento mais difícil das suas carreiras”.
“Sem concertos durante vários meses e sem perspetivas de trabalho, foi com um misto de espanto e de admiração que acompanhámos Os Vocalistas na renúncia ao silêncio que invadiu as suas e as nossas vidas para, no tempo de paragem em que o documentário foi gravado, procurarem novas fontes de inspiração, indo ao encontro de velhos amigos com quem partilham essa imensa aventura que é o aante alentejano”, acrescenta.
Ainda de acordo com Luís Godinho, trata-se de um documentário “que reflete sobre as consequências financeiras, pessoais e familiares da crise provocada pela covid-19 e sobre a difícil tentativa de regresso” à normalidade.
Bissexto é o terceiro documentário do realizador sobre temáticas musicais, depois de Chainho, filmado por ocasião dos 50 anos de carreira do guitarrista António Chainho, e de Marfim, uma viagem pelo património arquitetónico e cultural da cidade de Évora conduzida pelo músico António Bexiga, ambos estreados em 2017.
Produzido pela ALD Produções e pela Setespinhas, com produção executiva de Ana Luísa Delgado e direção de fotografia de Bruno Lino Vassalo, Bissexto conta com a participação especial do Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias”, do Grupo Coral Feminino “As Andorinhas do Rosário” e do Grupo Coral “Os Ganhões”, de Castro Verde.
“O documentário fala das dificuldades que a pandemia trouxe para o nosso trabalho. Foi um tempo terrível em que todos os dias eram cancelados espetáculos e em que nos vimos numa situação muito difícil, com todo o nosso trabalho desmarcado”, revela José Emídio.
Ao longo de 2020, quando o documentário foi filmado, Os Vocalistas publicaram todos os dias, na Internet, uma moda de cante alentejano. “É uma peça única, pois nunca ninguém tinha feito um cancioneiro digital. Como o ano teve 366 dias chamámos-lhe Bissexto de Modas. Daí o nome do filme”, sublinha José Emídio, lamentando que os grupos corais continuem a passar por “muitas dificuldades” pois “ainda não houve uma retoma completa” dos concertos.
Finalistas do programa “The Voice Gerações”, da RTP1, Os Vocalistas completaram oito anos de atividade. “Durante este percurso, introduzimos diversos instrumentos, como percussão, beatbox, acordeão ou baixo e fomos fazendo arranjos vocais pouco utilizados no cante alentejano, dando assim uma nova roupagem à nossa música”, refere Ruben Lameira, recordando que o primeiro cd, com “músicas que fomos encontrado aqui e ali nas nossas pesquisas e pelas quais nos fomos apaixonando”, chegou a estar previsto para este ano, não se tendo concretizado “por força da pandemia”.