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A aposta de Margarida Monchique no poder medicinal das plantas

Pode a Serra d’Ossa ser uma farmácia a céu aberto? Margarida Monchique acredita que sim. Nascida em Estremoz, dedica-se à produção de cosmética, pomadas, tinturas, entre outros produtos, como uma linha de aromaterapia. Diz que “quando cuidamos da natureza, ela cuida de nós”.
Mariana Miguéns (texto e fotografia)

Margarida Monchique nasceu e cresceu em Estremoz, sempre em contacto com o campo, assumindo como “missão” o uso das plantas e ervas medicinais, intimamente ligado com a história da vida humana na Terra. “Os pais dos nossos avós ainda utilizaram muito as plantas para se curar, para tratar e combater infeções, esse uso era algo disponível a todos”, refere, lembrando que “toda a gente conhecia que planta podia utilizar em cada caso concreto, havendo mais conexão e mais confiança no mundo natural”.

Foi a avó quem lhe despertou o interesse pelo tema. Aos 18 anos, decide embarcar numa viagem aos Açores no âmbito de um projeto internacional denominado Worldwide Opportunities on Organic Farms, que põe em contacto visitantes com agricultores orgânicos e visa “promover a agricultura sustentável como estilo de vida”.

Por aí ficou cerca de três meses, numa quinta sustentável de agricultura biodinâmica, que a ajudou a desenvolver e aprofundar conhecimentos nesta área. Na quinta entrou em contacto com diversas realidades que englobam uma vida sustentável. Foi por lá que conheceu conceitos como os de permacultura e de sistema agroflorestal, onde a plantação de alimentos permite a recuperação vegetal e do solo.

De regresso, manteve a sua viagem pelo mundo sustentável e embarca rumo a diversas quintas, diversas formações, como o curso de design de permacultura, na Eco Aldeia do Vale, em Sintra, onde aprendeu “os princípios básicos de design ecológico e regenerativo”, um outro sobre “conexões” entre pessoas e plantas, com a brasileira Priscila Ferrari, e um terceiro sobre cosmética natural, com Joana Vitória, curiosamente uma açoriana que se instalou no Alentejo, em Marvão.

De regresso ao Alentejo, Margarida Monchique concebe um espaço de trabalho, um laboratório, onde cria os seus produtos na linha de cosmética natural, incluindo pasta de dentes, desodorizante, sérum facial ou saboaria artesanal, continuando a aprofundar os estudos sobre o uso de plantas medicinais através de um curso de fitoterapia em medicina tradicional chinesa, que lhe permitiu apostar uma linha de farmácia natural.

As plantas medicinais com que trabalha são maioritariamente colhidas na natureza, não cultivadas, pois acredita que as plantas silvestres agregam em si “uma grande resiliência e poder” e são essas características que quer trazer para os seus produtos de farmácia natural. Grande parte das colheitas é feita na Serra d’Ossa, onde encontra o eucalipto, o rosmaninho, a esteva ou o salgueiro, a que junta outras plantas cultivadas na quinta em Montemor-o-Novo, onde vive parcialmente e trabalha em “retiros de silêncio” e yoga, e onde existe uma horta medicinal com inúmeras plantas como sálvia, milefólio ou lavanda.

É com todas elas que faz pomadas e tinturas, para adultos e crianças. As pomadas são feitas através da extração das propriedades das plantas pelo azei- te, com uma aplicação externa. Já as tinturas são feitas através da extração das propriedades pelo álcool e o uso é interno, com um tratamento mais prolongado.

“A farmácia natural é o meu foco, a minha paixão, é onde tudo fica a fazer sentido. O poder das plantas é incrível, o momento de transformação, toda a produção… é onde aplico o saber ancestral e intuitivo com o conhecimento e necessidades atuais. Quando cuidamos da natureza, ela cuida de nós. É também aqui que tenho a linha de produtos mais locais, é tudo daqui, das plantas ao azeite e à cera de abelha”, refere.

É também da sua quinta que surge outra linha de produtos, destinados à aromaterapia, que engloba a transformação das plantas, através do processo de destilação feito em alambique, em hidrolatos e óleos essenciais, utilizados em embalagens roll on e velas botânicas.

Inicialmente, lembra Margarida Monchique, o alambique não era utilizado para produzir álcool, mas sim perfumes e bebidas com propriedades medicinais. O seu é feito de cobre. As plantas são colocadas na caldeira com água, esta é aquecida até ao ponto de ebulição e, mantendo a temperatura controlada aos 100 graus centígrados, os vapores de água são elevados através da coluna, passando para a serpentina que está submersa em água fria corrente, proporcionando assim a condensação desses mesmos vapores. O produto final resulta num conjunto de hidrolato e óleo essencial, separado através da filtração.

Em projeto tem a criação do seu próprio espaço, em Estremoz, onde consiga partilhar os seus conhecimentos e formar família, “em comunhão com a natureza”

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