A água falha com frequência, muitos dias não corre, e quase sempre chega às torneiras com pouca pressão. Nada disto se compreende, nem é aceitável”. A afirmação é de uma moradora num segundo andar de um dos prédios da Avenida Marques Crespo, em Estremoz, que pede para não ser identificada. Ali habitam dezenas de pessoas, a quem o abastecimento de água é assegurado de forma precária… quando é.
“Quando a água falha vem com muito barro misturado, a gente limpa como pode, mas as máquinas de lavar avariam com frequência, acrescenta a moradora, referindo que o problema “não é de hoje”, mas garantindo que se “agravou, e muito, nos últimos dois anos. “A minha sorte é que vivo no segundo andar, pois no terceiro é muito pior, uma vez que a pressão ainda é menor”.
Segundo acrescenta, os moradores têm reclamado junto da Câmara, sem sucesso. “Nem resposta temos”, assegura. Outros residentes dizem que a falta de pressão no abastecimento de água é de tal ordem que impede os banhos, ou obriga a utilizar água engarrafada para a lavagem da loiça. “Muitas vezes não há pressão suficiente para acender o esquentador”.
Os problemas no abastecimento de água aos moradores nesta artéria da cidade de Estremoz estarão longe de ser os únicos, pois quem vive na Rua São João de Deus ou na Rua Tomaz Alcaide viverá situações semelhantes. Mas foram estes que a vereadora Dulce Russo, daColigação Estremoz com Futuro, liderada pelo PSD, levou a reunião pública de Câmara.
“Há mais de dois anos que na Avenida Marques Crespo, junto à Escola da Mata, existe constantemente pouquíssima pressão de água, o que é agravado pelas frequentes roturas de condutas, havendo situações em que as pessoas deixam de ter água. Idêntica situação acontece, pelo menos, nas frações de quatro prédios, cada um composto por quatro pisos, com diversos apartamentos”, disse a autarca, que exigiu explicações sobre as medidas que o Município tenciona tomar para resolver o problema.
“As pessoas estão francamente cansadas, acabando até por estar desesperadas, chegando ao ponto de necessitarem de ir tomar banho a casa de amigos, ou de estar munidas de garrafões de água para confecionar as refeições e lavar a loiça”, acrescentou Dulce Russo, sublinhando que a situação “torna-se ainda mais grave” nos pisos superiores, ou seja, para quem vive nos segundo e terceiro andares destes edifícios.
“Esta situação já foi reportada à Câmara Municipal, verbalmente e por escrito, e estão várias famílias afetadas por este problema, que é grave e prejudica a qualidade de vida destas pessoas”, disse ainda a autarca social-democrata, defendendo a necessidade de “resolver” uma situação que se tem vindo a agravar. “Que expectativas podem ter estas famílias para que este problema possa ser solucionado a curto prazo”, questionou.
Na resposta, o presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio, garantiu não se tratar “de nada de novo”, uma vez que “as condições das condutas e da rede de distribuição [de água] é a mesma” que encontrou há três anos, quando assumiu o mandado. “Isto não é um problema com três anos, acontece desde sempre”.
Ainda de acordo com José Daniel Sádio, a explicação para a falta de pressão decorre do facto da conduta que abastece o depósito de água do Castelo ser, simultaneamente, adutora e distribuidora. “Isto é, a água, ao invés de ir diretamente para o depósito e depois vir, por gravidade, [abastecer] as casas, vai abastecendo as casas e depois chega ao depósito. Por vezes há roturas e perde-se a capacidade de repor o nível [de água] e a pressão necessária. Isso demora”, refere.
Reconhecendo que não é só nesta zona da cidade que existem problemas, o presidente da Câmara garante que irá existir “uma intervenção da conduta”, através da colocação de hidropressores, “para manter a pressão constante” e resolver os constrangimentos sentidos pelas famílias que residem nestas artérias. “Uma das obras que temos prevista no âmbito do Programa Alentejo 2030 é a [construção da] adutora para aquele depósito da cidade, construir uma nova conduta para que a água vá diretamente para o depósito. E aí resolve-se de vez a questão da pressão constante”, frisou.
Assegurando só ter conhecimento “da queixa de uma pessoa”, a que o Município irá responder, José Daniel Sádio refere que o problema “está sinalizado” e que existe “não há três anos, mas há 30”, ainda que seja grave” e que careça de resposta. “Este problema agravou-se nos últimos dois ou três anos”, contrapôs a vereadora Dulce Russo: “Sabemos que o problema é de há décadas, mas por isso mesmo é necessário encontrar uma solução. Não podemos estar daqui a 30 anos ainda com este problema”, disse a autarca do PSD, defendendo ser “premente encontrar soluções para que as pessoas possam ter qualidade de vida”.
Já o vereador socialista Luís Pardal, com o pelouro das obras, garante que a situação “não se agravou porque não houve nenhuma alteração à rede de água nos últimos anos”, e assegura que está a ser “ultimado” o projeto para resolver o problema de abastecimento de água nestas três ruas, sobretudo “nos prédios em altura, que é onde existe a dificuldade” de garantir a existência de pressão.
“O projeto está a ser ultimado para podermos lançar a empreitada. [As obras] estão previstas e serão financiadas no âmbito do contrato dos Investimentos Territoriais Integrados [estabelecido] com a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central. Para além de estarmos a ultimar o projeto e de termos esse dinheiro previsto, iremos avançar com a obra, mesmo antes de a candidatura estar aprovada”, concluiu.