Associação alerta para “delapidação contínua” da flora no regadio de Alqueva

A associação ambientalista Zero diz que a “delapidação da biodiversidade continua em Alqueva”, com “mais dois núcleos de espécies em risco destruídos em área de regadio”, plantas endémicas num terreno perto de Beringel, concelho de Beja. 

Em comunicado, a associação argumenta que o Bloco de Rega Beringel-Beja, pertencente ao Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA) “volta a ser palco de destruição da flora endémica em risco, mediante uma incapacidade de resposta crónica das entidades responsáveis”.

De acordo com a Zero, aconteceu “a destruição recente de dois núcleos de espécies protegidas na área de influência” do EFMA, mais precisamente das plantas linária-dos-olivais (Linaria ricardoi) e Bellevalia trifoliata.

Esta destruição “expõe falhas graves na capacidade das entidades públicas em salvaguardar a biodiversidade, mesmo perante denúncias atempadas”, critica a Zero.

Segundo Pedro Horta, da associação ambientalista, ambas as plantas são “endemismos regionais, com a linária-dos-olivais a ter uma ocorrência um pouco mais extensa”, enquanto a “Bellevalia trifoliata só ocorre mesmo na zona dos barros de Beja e de Beringel e está criticamente em perigo”.

“Este bloco de rega do Alqueva” – prossegue – “está implementado e em funcionamento e é na conversão que os agricultores fazem de uma cultura para outra, ao serem abrangidos pelo regadio, que acontece a destruição das plantas”.

Ainda de acordo com Pedro Horta, “os dois núcleos das plantas endémicas, embora não se saiba exatamente o número de indivíduos afetados, foram destruídos na mesma parcela de terreno, perto de Beringel”, onde “havia olival tradicional que foi arrancado”.

Para a Zero, este caso “reforça a urgência de medidas eficazes para travar a perda de valores naturais e garantir uma atuação célere na proteção dos ecossistemas ameaçados”. Atém de ter proteção comunitária, a linária-dos-olivais é alvo de um programa de monitorização da espécie a cargo da EDIA.

A associação disse ter comunicado a possível destruição das espécies protegidas tanto à Empresa do Alqueva como ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), no início de abril. “Apesar da resposta célere da EDIA, apenas no final de maio a Zero recebeu informação de que o ICNF teria dado ordem para parar os trabalhos”, o que não foi respeitado, tendo a mesma entidade informado a associação, em 23 de julho, sobre “o estatuto de proteção das espécies e a ilegalidade de quaisquer alterações no uso do solo sem parecer prévio”.

“Infelizmente o dano pode ser, agora, irreversível”, lamenta a associação ambientalista, reclamando à adoção de medidas urgentes como “uma pós-avaliação independente dos impactes do EFMA, incluindo na biodiversidade” e a “reconfiguração dos sistemas de incentivo para que a proteção da biodiversidade por parte de agricultores e gestores de terras seja devidamente compensada”.

As outras medidas sugeridas são assegurar a representação de organizações de desenvolvimento local e de defesa de direitos sociais e ambientais no Conselho para o Acompanhamento do Regadio (CAR) de Alqueva e a proteção efetiva dos locais de ocorrência identificada de espécies e habitats de alto valor, através de melhorias na monitorização e mecanismos de resposta rápida.

Fotografia | Cristina Estima Ramalho/Flora on

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