Carlos Cupeto: “Lixo e tudo à volta”

A opinião de Carlos Cupeto, professor da Universidade de Évora

No início dos anos 2000 esteve em Évora José Sócrates, o então ministro do Ambiente, mais tarde primeiro-ministro, a lançar a primeira pedra do aterro sanitário do Alentejo Central. Hoje conhecemos o aterro, junto a Évora, na estrada das Alcáçovas, bem próximo do futuro hospital. Quando faço esta referência geográfica não é por acaso, não me parece uma boa ideia.

O ambiente foi de festa por duas razões: campanha eleitoral que se vivia e este aterro ser o último da rede que cobre o país. Este pormenor permitiu ao ministro afirmar, com muita alegria e convicção, que Portugal tinha entrado no comboio de primeira classe da Europa no que respeitava ao tratamento e gestão do lixo.

Escrevo lixo porque assim toda a gente sabe do que falo. Acontece que, por mera e infeliz coincidência, nessa mesma semana da festa do lixo em Évora, a Suíça anunciava que finalmente tinha selado o último aterro sanitário. Infelizmente a razão está do lado dos suíços e do resto da Europa. Mais uma vez, a história foi-nos mal contada e a pior das suas parcelas, as contas, no dia em que forem assumidas vão-nos pesar muito no bolso.

Na verdade, estas caríssimas “lixeiras de última geração” há muito que foram postas de lado pela Europa que, nessa época, nos financiou para lhes comprarmos o que eles já não queriam, como muitas vezes acontece, sabe-se lá porquê. Entretanto, os problemas são graves e diversos e estão disseminados por todo o país, vão sendo disfarçados como cada um pode, à boa maneira portuguesa, até ao dia em que a coisa já não der.

Nesse dia vamos dar conta que andámos a enterrar dinheiro com o lixo, e que, umas décadas depois, pouco ou nada resolvemos e não temos mais dinheiro para enterrar. Nada em Portugal passeia tanto como o lixo, nem sequer os reformados.

Os problemas dos diferentes aterros são bem conhecidos e sobretudo as pessoas mais próximas sentem-nos. Pior, no dia em que a coisa, no geral, colapsar não teremos meios para lhe acudir e teremos nas mãos um gravíssimo problema ambiental que irá perdurar no tempo. Além da “maldade” que a Europa nos pregou quando nos impingiu as “lixeiras de última geração”, o país insiste em determinados tabus que sustentam e alimentam pequenos grupos de interesse.

A separação de lixos, que por cá poucos fazem, porque aparentemente ninguém paga, faça ou não faça, está muito longe de atingir as metas a que estamos vinculados. A incineração (queima), com aproveitamento energético, que a Europa, e bem, adotou, por cá é algo convenientemente esquecido.

Entretanto começam a surgir alguns conflitos entre partes: a Câmara do Seixal interpôs uma ação judicial contra o Ministério do Ambiente e a Amarsul – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos S.A., que desde 1997 tem concessão de exploração e gestão do Sistema Multimunicipal de Tratamento e de Recolha Seletiva de resíduos urbanos da Margem Sul do Tejo, pelo licenciamento de uma nova célula no aterro desta empresa.

O nosso atraso, face à UE, deveria servir, pelo exemplo dos que vão mais à frente, para saltarmos alguns degraus e caminharmos nosentido de um país normal.

Partilhar artigo:

ASSINE AQUI A SUA REVISTA

Opinião

PUBLICIDADE

© 2024 Alentejo Ilustrado. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.

Assinar revista

Apoie o jornalismo independente. Assine a Alentejo Ilustrado durante um ano, por 30,00 euros (IVA e portes incluídos)

Pesquisar artigo

Procurar