Depois do abandono e do incêndio, aí está o renovado Florbela Espanca

O Cineteatro Florbela Espanca, em Vila Viçosa, reabriu após ter estado mais de 10 anos fechado e depois de um incêndio, em julho do ano passado, que destruiu as obras de reabilitação entretanto iniciadas. Ana Luísa Delgado (texto e fotografia)

“No dia do incêndio pensei que nunca mais conseguia ‘levantar’ o Cineteatro”, lembra Inácio Esperança, presidente da Câmara de Vila Viçosa. “Já aqui estava investido mais de um milhão de euros, em obras, e foi tudo ao ar num instante, ficámos de ‘pernas partidas’ pois nem se sabia se haveria possibilidade de financiamen- to, muito menos como é que se recomeçava a obra”.

No final, contabiliza, foram investidos cerca de três milhões de euros, cofinanciados por fundos comunitários, em vez dos 2,4 milhões previstos. “A obra chegou a esse valor”, sublinha, “porque 600 mil euros estão duplicados. Conseguimos aproveitar o máximo do Portugal 2020 e depois ir buscar financiamento ao Portugal 2030, fazendo, no fundo, a transferência de uma parte da obra para o novo quadro comunitário”.

O espaço agora renovado é composto por dois auditórios, um com 200 lugares sentados e outro com capacidade para uma centena de pessoas, uma sala multiusos e galeria de exposições, além de camarins, bar e casas de banho.

Segundo Inácio Esperança, quando o novo Executivo foi eleito, em outubro de 2021, encontrou “uma obra parada, com um empreiteiro que a única coisa que queria fazer era fugir daqui. E acabou por fugir, abandonou a obra”. Inaugurado em julho de 1957, o Cineteatro Florbela Espanca foi encerrado em 2012, devido a problemas estruturais, tendo a requalificação sido assumida por vários executivos autárquicos, mas só agora concretizada.

O primeiro projeto de requalificação data de 2018. A ausência de concorrentes aos vários concursos públicos, entretanto abertos, fez com que a obra se arrastasse. Isto porque o valor inicialmente previsto, de 613,6 mil euros, não era suficiente para concluir todas as obras. Já com o atual Executivo, a candidatura de reabilitação do edifício foi reforçada por fundos comunitários, para um apoio na ordem de 1,3 milhões de euros, o que permitia avançar com os trabalhos.

Esse projeto inicial”, sublinha Inácio Esperança, “nem sequer dava garantias de ali se poder ver cinema, teatro, ou outra atividade cultural. [Tratava-se apenas de] substituir o teto falso, arranjar as paredes e pouco mais. O sistema de ar condicionado, por acaso, estava previsto. Em janeiro de 2022, logo que tomámos posse, iniciámos um novo projeto”.

A obra arranca em janeiro de2023, mas seis meses depois, a 31 de julho, um violento incêndio que terá tido origem em trabalhos de soldadura destruiu o telhado do edifício e os equipamentos de ar condicionado, tendo apenas ficado as paredes.

“Nesse dia tive a ajuda do Presidente da República e do Governo, que fizeram a diferença para podermos recomeçar o mais rapidamente possível”, adiantou o presidente da Câmara, classificando este investimento como sendo “reprodutivo também em termos económicos” por levar pessoas ao concelho. Para dia 6 de dezembro está agendado um concerto da Orquestra Sinfónica de Tóquio. Depois, um congresso internacional sobre saúde e desporto, cujas inscrições já superam a centena. 

ESTÁTUA NO INÍCIO DO ANO

O Município de Vila Viçosa irá inaugurar, no início do próximo ano, uma estátua de Florbela Espanca, que está a ser executada pelo escultor Francisco Simões, autor do Parque dos Poetas, em Oeiras, onde também esculpiu uma peça de homenagem à escritora calipolense. O anúncio foi feito pelo presidente da Câmara de Vila Viçosa, Inácio Esperança, segundo o qual a estátua, feita em mármore do concelho e com 4,5 metros de altura, será colocada junto à última casa habitada pelo pai da poetisa, num “jardim bucólico” onde, numa parede, será escrito um dos poemas de Florbela.

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