O Dia Mundial da Voz, a 16 de abril, vai ser celebrado com um espetáculo dedicado à voz cultural no Teatro Garcia de Resende, que contará com os artistas Vitorino, José Cid, Toy, Miguel Gameiro e Jorge Batista da Silva, entre outros. O espetáculo organizado por Clara Capucho, a “Dra. Voz”, em parceria com o Município de Évora e o apoio da Fundação GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas, contará também com homenagens aos atores Manuela Maria, Carlos Paulo e Rui Mendes e aos cantores Vitorino e José Cid.
Os benefícios da Inteligência Artificial (IA) na saúde vocal irão estar no centro das comemorações. “A IA vai melhorar muito a saúde vocal de toda a população e também a dos artistas – atores e cantores – que fazem da voz o seu principal instrumento profissional”, afirma Clara Capucho, otorrinolaringologista especializada na voz artística, coordenadora da Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que organiza há mais de uma década os rastreios da voz. Segundo esta especialista, a IA começa a ser um instrumento muito útil para detetar patologias da voz e ajudar a corrigi-las.
“A utilização da IA pelas indústrias médicas”, acrescenta, “está a produzir aplicações que, instaladas num simples telemóvel, vão poder detetar e identificar vírus através da voz: os algoritmos são treinados para detetar desvios na voz de cada indivíduo e emitirem alertas quanto à sua natureza e origem”.
De acordo com Clara Capucho, “nuns casos, os tratamentos exigirão fármacos ou tratamentos clínicos. Noutros casos, serão precisos exercícios comportamentais de colocação de voz e de terapia da fala: o que é fantástico é que a IA poderá prescrever para cada pessoa, com toda a precisão, quais são exatamente os exercícios que ela deve realizar em cada circunstância em que esta ou aquela patologia se manifestar”.
Para desenvolver tecnologias que apliquem a Inteligência Artificial ao diagnóstico e terapia das doenças da voz, a Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz está a trabalhar com o grupo de investigação de robótica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, coordenado por José Barata, segundo o qual “a utilização da IA por otorrinolaringologistas em unidades clínicas pode alargar a saúde vocal a grupos cada vez maiores da população. Para atores e para cantores, é um instrumento que os pode apoiar na melhoria da sua prestação artística”.
Por outro lado, a IA também coloca ameaças aos atores e cantores que decorrem da digitalização da sua voz e da utilização dos algoritmos para substituir o seu trabalho: “É totalmente ilegítimo, seja do ponto de vista dos direitos de propriedade intelectual, seja do ponto de vista clínico, utilizar a tecnologia abusivamente para alterar ou substituir o timbre, a entoação ou as emoções de uma interpretação artística”, afirma Clara Capucho. “O maior risco da Inteligência Artificial é o de poder partilhar de forma indiscriminada a voz de cada artista, a sua impressão digital, utilizando sem o seu consentimento o que devia ser uma marca única da sua individualidade profissional”, conclui.