Dos bailes à prisão. A ascensão e queda do cantor Miguel Bravo

O caso, conhecido esta semana, abalou a vila da Azaruja e agitou as televisões. Miguel Bravo, conhecido cantor “pimba” ou de música de baile, como se lhe queira chamar, é suspeito da prática de três crimes de abuso sexual de crianças e de três crimes de pornografia de menores. Foi detido pela Polícia Judiciária. Ana Luísa Delgado (texto)

Primeiro terão sido os pedidos de fotografias e vídeos de cariz pornográfico, depois a ameaça de os tornar públicos. A mãe de uma rapariga a quem o cantor Miguel Bravo, residente na Azaruja, pedia imagens pornográficas, contou aos jornalistas que só teve conhecimento do caso quando, um dia, a filha, então com 12 anos, lhe pediu para colocar uma palavra passe no telemóvel. “Ela andava muito deprimida, foi a forma que encontrou para me dizer o que se estava a passar”.

Quando, horas depois, estava a manusear o telemóvel, a mulher apercebe-se de uma mensagem de via Instagram, alegadamente enviada pelo músico, “mensagem essa onde constava um número de telemóvel”, com o pedido para uma chamada via WhatsApp.

De acordo com o relato, Miguel Bravo, “pensando que estava a falar” com a menor, “pediu-lhe que fizesse um vídeo pornográfico”, tendo deixado a ameaça de “divulgar na Azaruja as fotos que tinha dela”, caso se recusasse a aceder ao pedido. Foi nesse momento que a mãe se apercebeu do que se estava a passar. “No telemóvel da minha filha também havia vídeos explícitos dele”.

As duas famílias tinham relações de amizade. Até esse momento nada apontava para um caso com estes contornos, e que levou a Polícia Judiciária a deter Miguel Bravo, momentos antes de um concerto, suspeito da “prática de três crimes de abuso sexual de crianças e de três crimes de pornografia de menores agravados”.

Fonte da Judiciária acrescentou que a vítima, atualmente com 13 anos, “foi sendo instigada e persuadida, desde dezembro do ano passado, a trocas de fotos e vídeos de cariz sexual”.

Segundo a mãe, numa das ocasiões o cantor terá escrito que “estava a precisar do vídeo e que lhe dava 20 euros”. Noutra ocasião terá oferecido 100 euros. “Como conhecia os pais do Miguel Bravo fui falar com eles”, acrescentou a mulher, revelando que, em momento posterior, chegou a falar via telefónica com o arguido que começou por “negar” os factos, acabando por pedir desculpa. “Respondi que não aceitava as desculpas, nem perdoava, que iria pagar por aquilo que fez”.

Já quanto à vítima, a mãe diz que a filha “está muito em baixo” por toda esta situação. “Estou aqui só para defender a minha filha e pode haver outras vítimas que não se sabem expressar. A única coisa que pretendo é que o Miguel Bravo pague por aquilo que fez”.

A eventual existência de outras vítimas é uma das pistas que as autoridades policiais estão a seguir, num processo que está a correr termos no Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora, onde o arguido foi presente esta semana, tendo-lhe sido aplicada a medida de apresentações periódicas e proibição de contacto com a vítima.

Mas, afinal, quem é Miguel Bravo? Com mais de 33 mil seguidores no Instagram, o músico de 21 anos nasceu na Azaruja e tornou-se conhecido, primeiro, no programa Got Talent (2021), da RTP 1, depois por aparições televisivas e por um repertório com música de baile que o levou a dar concertos por todo o país. E aí residiu outra polémica, em virtude de acumular acusações de agendar espetáculos e não os realizar, chegando a marcar mais do que um concerto por noite.

Aliás, segundo a comissão de festas do Porto Alto (Benavente), onde o cantor foi detido, tinha agendado um concerto para a meia-noite, precisamente em Porto Alto, “e uma hora depois no Cerdal (Viana do Castelo) e às duas da manhã em A dos Negros, no concelho de Óbidos”.

“Ando a mil por Portugal inteiro, não tenho descanso e sinto-me completamente exausto. Sim eu errei, eu sei que errei tenho consciência disso, mas não é fácil todos os dias termos pedidos para festas e de repente olhamos e temos tudo baralhado coisas em cima de coisas”, justificou-se o músicos em agosto 2022, quando anunciou o cancelamento de todos os espetáculos até final desse ano.

Depois de conhecida a detenção, a família do cantor reagiu nas redes sociais, pela voz da irmã, Raquel Bravo: “O Miguel tornou-se alguém que deixei de conhecer. A suposta fama iluminou-o, mas a mesma ofuscou-o”.

Raquel escreveu que o irmão “deixou de ser o miúdo humilde, cativante, bom amigo, para procurar ser falado em tudo o que é sítio”. Ainda segundo a irmã, ao tornar-se conhecido, Miguel Bravo “tornou-se o seu pior amigo, sem dar conta, sem aceitar qualquer tipo de ajuda. A falta de maturidade prejudica-o”.

“Falta-lhe pés bem assentes no chão, uma perspetiva de futuro e a certeza de que para se ter amigos não teremos que lhes oferecer dinheiro (…) o Miguel é meu irmão e, com ou sem erros, aceitando ou não, continuará a sê-lo. Com amor”, concluiu.

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