O presidente da Câmara de Évora reiterou a impossibilidade de o município suportar sozinho a edição deste ano do Festival Imaterial, que deveria acontecer em maio, após o fim da parceria com a Fundação Inatel.
“A Câmara, por si só, num momento em que o Inatel abandona a parceria e a comparticipação financeira, não tem condições para avançar” com a iniciativa, afirmou Carlos Pinto de Sá (CDU), a propósito de uma carta aberta sobre o festival que lhe é dirigida e subscrita por centenas de pessoas, como artistas, produtores, programadores, professores, entre outros, divulgada hoje na página de Internet do jornal “Público”.
Na carta aberta, os subscritores manifestam indignação com o cancelamento da 5.ª edição do festival, que deveria acontecer de 16 a 24 de maio, em Évora, e acusam a autarquia de “desinvestimento cultural” nos anos que antecedem a Capital Europeia da Cultura.
Em dezembro de 2024, o presidente do município revelou à Lusa que a 5.ª edição do Festival Imaterial tinha sido cancelada, após a Fundação Inatel ter retirado o apoio financeiro.
Na altura, a Fundação Inatel confirmou que ia deixar de apoiar este festival, justificando que a decisão “está também relacionada com a prioridade da autarquia” para colaborações com projetos da Capital Europeia da Cultura.
Hoje, o autarca assinalou que foi “com mágoa e tristeza” que a câmara teve que tomar a decisão de suspender este ano o evento, sublinhando, porém, que “não se podem fazer omeletes sem ovos”.
“Essa decisão decorreu, em primeiro lugar, da quebra da parceria com o Inatel, que era o nosso parceiro desde a primeira edição e que assegurava uma significativa parte do financiamento do festival”, frisou.
Segundo o autarca, o Imaterial, que arrancou em 2021, contou nas suas primeiras três edições com financiamento tripartido da Câmara de Évora, da Fundação Inatel e de fundos da União Europeia. “Mas, entretanto, os programas da União Europeia deixaram de financiar o festival e a câmara assumiu essa parte sem que o Inatel tenha aumentado a sua participação” e, agora, a quebra da parceria “retirou-nos uma verba substancial”,.
Pinto de Sá revelou que a Câmara ainda ponderou se era possível passar a “suportar integralmente” a iniciativa, pois “não havia outras verbas de financiamento”, salientando que a proposta de redução de custos para o evento foi diminuta. E diz ter anunciado a suspensão da iniciativa por “não ter possível” sustentá-la “do ponto de vista financeiro”.
Ainda de acordo com o presidente do Município, a realização da edição de 2024 do evento implicou um investimento total na ordem dos 300 mil euros, incluindo cachês dos artistas e custos logísticos, e, para a realização de um festival mais pequeno, a câmara teria que pagar sozinha entre 220 mil a 250 mil euros.
“Era um valor que, nestas condições, era incomportável para a Câmara e, não tendo encontrado uma solução alternativa de financiamento, tivemos que suspender o festival”, sublinhou o autarca, dizendo esperar que “possam vir a ser reunidas condições para, no futuro, se possa voltar a fazer o Imaterial”, manifestando a disponibilidade da autarquia em “garantir uma parte” do financiamento.
Carlos Pinto de Sá recusa também as acusações de desinvestimento na cultura, dando como exemplos várias obras e projetos do município nesta área, lamentando igualmente “o tempo em que a carta é divulgada, em vésperas de eleições legislativas e perto das autárquicas”.
“Estes tempos de saída deste tipo de documentos, obviamente, têm alguma influência nos tempos que vivemos”, acrescentou.
O evento foi realizado pela primeira vez em 2021, fruto de uma parceria entre a Câmara de Évora e a Fundação Inatel, para promover o Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
O Imaterial, cuja programação esteve sempre a cargo do diretor artístico e de produção do Festival Músicas do Mundo (FMM) em Sines, Carlos Seixas, que subscreve a carta, incluía concertos, cinema, performance, conferências e conversas.