Como vê a demissão de Paula Mota Garcia?
Com preocupação e com alguma tristeza, porque a Paula Mota Garcia era o rosto e a grande mentora técnica daquilo que foi a construção da candidatura e que culminou na escolha de Évora para Capital Europeia da Cultura em 2027. Perdermos uma pessoa com essa qualificação deixa-me preocupada… foi, aliás, defendido por todos os vereadores da Câmara de Évora que seria muito importante manter-se uma ligação à equipa de missão que desenvolveu a candidatura, não se perdendo a ligação a quem faz a proposta que o júri aceitou e que atribuiu a classificação a Évora.
Uma ligação que agora se quebra.
E por isso estar muito preocupada com o que isso representará para o sucesso do projeto até 2027. O dossiê de candidatura tem uma mentora técnica e de coordenação, apesar de ser uma equipa multidisciplinar, e nós perdemo-la, na minha opinião, por falta de algum bom senso.
Esta demissão poderá pôr em causa o que estava programado?
Pôr em causa não, está programado, está inscrito no bid book [dossiê de candidatura], que funciona como um contrato assinado entre as partes, Portugal (através do Governo e do Município) e a União Europeia. É um contrato que tem de ser executado nesses termos. Teria sido de bom senso mantermos uma grande ligação à equipa de missão, independentemente de poder existir uma nova dinâmica de desenvolvimento com esta equipa proposta pela Dra. Maria do Céu Ramos.
Mas no comunicado que divulgou, a própria Paula Mota Garcia fala em diversos atrasos.
Que correspondem a críticas que também temos vindo a fazer, que é a lentidão do processo, do atraso que houve na criação da Associação Évora_27, a entidade independente que deveria gerir a Capital Europeia da Cultura… repare, ainda estamos nessa fase, ainda não concluímos essa fase que é fundamental para o sucesso da candidatura. Passou-se todo o ano de 2023 e boa parte de 2024 e ainda não temos essa estrutura, sendo que já se sabia desde o período de candidatura que a gestão teria de ser entregue a uma entidades independente. Poder-se-ia ter adiantado trabalho, independentemente de só se poder formalizar se fossemos os escolhidos, e fomos. Estamos em outubro sem ter a estrutura fechada e agora cria-se este problema, um mal-estar que deveria ter sido evitado.
Estamos a falar de três nomeações, a da presidente e dos diretores financeiro e de comunicação…
Compreendo que a pessoa que foi convidada para ser presidente da Capital Europeia da Cultura, e que aceitou, se queira rodear de equipas da sua confiança. Mas estamos a falar de três cargos… olhe, também não ilibo de responsabilidades o atual presidente da Câmara, foi sempre o líder da candidatura, a pessoa liderava este processo em articulação com o Governo, e penso que deveria ter sido mais proativo, para se garantir, pelo menos nestes três lugares de nomeação, a ligação à equipa de missão. E isso não foi assegurado.
E da parte do Movimento Cuidar de Évora, qual a postura a partir daqui?
Vamos estar obviamente atentos, disponíveis para colaborar e resolver problemas, mas é de facto muito preocupante estarmos no final de 2024, faltarem dois anos para a Capital Europeia da Cultura, e a estrutura de governança ainda não estar concluída. Como sabe, falta ainda preencher dois lugares [diretores executivo e artístico], para os quais será aberto um concurso internacional, que tem prazos, pelo que só lá para final do primeiro trimestre de 2025 é que isto estará resolvido, se tudo correr bem. E depois há que trabalhar, que executar não só a programação cultural, também a de Infraestruturas, que me preocupa ainda mais. Não estou a ver como será possível construir um pavilhão multiusos a tempo da Capital Europeia da Cultura.