Tradição em Reguengos de Monsaraz, que esta noite se repete, a Gala do Cante marca o encerramento da edição deste ano do Monsaraz Museu Aberto. O palco estará montado no Largo D. Nuno Álvares Pereira, e a fadista Teresinha Landeiro, uma das convidadas do Festival RTP da Canção (2023), irá juntar-se aos Grupos Corais da Freguesia de Monsaraz e da Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz, aos En’Canta Modas, que também têm andado por programas de televisão, e também às vozes de Manuel Sérgio e José Farinha.
Mas o “mergulho” do Museu Aberto no cante começará mais cedo, pelas 17h00, com a apresentação do Arquivo Digital do Cante Alentejano, projeto liderado por Florência Cacete, e que está em destaque na edição em papel da revista “Alentejo Ilustrado”, agora nas bancas.
O projeto de criação da plataforma digital do cante alentejano, pretende através da digitalização dos acervos existentes, construir um arquivo digital acessível a todos, baseando-se na recolha de dados junto dos seus principais atores, os grupos de cante alentejano.
Tendo a manhã sido marcada por uma conversa entre Ana Paula Amendoeira e José Pacheco Pereira – “Eu sou devedor à terra”, foi o ponto de partida -, para o final da tarde (19h00) está agendado um recital de piano no Olival da Pega, por Tiago Mileu.
A escolha do local foi criteriosa. “É um sítio magnífico, talvez um dos sítios mais bonitos à volta de Monsaraz, que precisa de atenção, precisa de ser protegido”, diz António Fialho, vereador da cultura na Câmara de Reguengos de Monsaraz. Ao longo de toda a semana, o festival preocupou-se em debater e chamar a atenção para os “problemas decorrentes da interioridade e do uso da terra”, passadas mais de duas décadas sobre o encerramento das comportas da barragem de Alqueva.
“A agricultura intensiva, e super intensiva, não apareceu de repente. Faz parte de todo um processo, e o Alqueva foi feito para irrigação, claro. Mas foi feito para irrigação deste tipo de agricultura?”, interroga António Fialho, lembrando ter sido possível reunir um conjunto alargado de especialistas nestas áreas, incluindo Teresa Pinto Correia e José Munoz Rosas, da Universidade de Évora, “dois dos maiores especialistas nesta área”, mas também Alfredo Sendim Cunhal, da Herdade do Freixo do Meio ou Marta Cortegano, da Associação Terra Sintrópica, ou ainda Galopim de Carvalho, Filipe Duarte Santos, geofísico e um dos maiores especialistas portugueses em alterações climáticas, ou o geógrafo Jorge Gaspar.
Em entrevista à Alentejo Ilustrado, o vereador da cultura assumiu desde a primeira hora que o “relançamento” do Museu Aberto, “feito a pensar nas pessoas de Monsaraz, mas também em quem visita” o concelho, tem em conta a necessidade de promover o pensamento sobre temas da atualidade, como a agricultura, a paisagem ou o despovoamento. A edição deste ano, acrescenta, “foi uma semente lançada à terra”, também uma aposta na qualificação da oferta turística.
“Temos de perceber o que queremos deste Alentejo. Monsaraz não é só a vila lá em cima, é toda a sua envolvente. Os agentes turísticos que estão no território têm que perceber isso. Que tipo de turismo queremos? Eu, que só de Óbidos, não quero ver aqui repetido o que aconteceu em Óbidos, toda a destruição que trouxe, a massificação. Perdeu-se a identidade, tudo feito sem nenhum pensamento crítico”, acrescenta Arlinda Ribeiro, a curadora-restauradora que este ano voltou a assumir a programação da bienal.