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Gavino Paixão: “Ignorar os invisíveis”

A opinião de Gavino Paixão, advogado

“A reparação faz-se pela dignificação dos herdeiros dos processos coloniais que vivem em Portugal”

Francisca Van Dunem

Esta frase, retirada de uma entrevista ao Diário de Notícias da ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, passou pela espuma dos nossos dias, ou melhor, pela azáfama que se apodera de nós logo pela manhã, para descobrir os gostos, compartilhamentos ou visualizações, que diariamente, durante horas, avidamente acompanhamos.

Na sua larga maioria os temas não nos interessam, não nos dizem respeito e em nada acrescentam, mas não podemos ficar de fora das conversas, apontamentos ou graçolas que certamente iremos ter ao longo do dia sobre alguns deles.

Deixámos de ler, apenas sobrevoamos as palavras das chamadas “redes das nossas vidas sociais”.

Como os lamentos não adiantam decidi ler a entrevista, aliás recomendo que a Humanidade leia a entrevista ou pelo menos esta frase. O tema é atual, puxado à ribalta pelo nosso Presidente da República e imediatamente absorvido pela voragem dos media. Deve o Portugal histórico reparar alguma coisa? Marcelo Rebelo de Sousa praticou crime de traição à pátria? Que relações devemos manter com os países colonizados? Horas de debates, páginas de jornais, a “bolha” está ao rubro.

No entanto, as palavras de Van Dunem são mais fortes. A frase impregnada de humanismo e aparentemente com verbos tão fáceis de entender, como “reparar”, “dignificar” e “viver”, são murros no estômago de todos aqueles que não querem ignorar os invisíveis que caminham nas nossas cidades, ao nosso lado: brasileiros, timorenses, indianos, árabes e tantos outros.

A força intrínseca das duas primeiras palavras torna insignificante a localização geográfica da terceira, “viver”. 

Em Beja, Braga ou Bragança, a dignificação deve iniciar-se pelo nosso olhar. Por cidadãos que olham outros cidadãos. Só assim poderemos realmente ver os invisíveis.

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