Estou desgostoso com o que se tem passado nos últimos tempos em Portugal. Acredito na democracia, como o menos mau dos sistemas políticos, e valorizo a importância de partidos que expõem os seus programas com ideologia e valores para os eleitores votarem naquele com que mais se identificam.
A Constituição define um regime semipresidencial, legitima pelo voto o Presidente e a composição do Parlamento, que em função dos votos expressos sustenta o Governo.
A última eleição resultou do exercício legal do poder de dissolução da Assembleia (com uma maioria de deputados do PS), pelo Presidente da República. A nova eleição, apresentou resultados que introduziram novos dados na composição do Parlamento, que pela primeira vez conta com nove partidos e uma maioria de eleitos de forças de direita (PSD 78 deputados, Chega 50, IL 8, CDS 2).
O PSD aceitou formar um governo assente em um terço dos deputados não estabelecendo acordos de governação. Pedro Nuno Santos declarou então que o PS não aprovará moções de rejeição nem de confiança.
Aquando da apresentação do Programa de Governo PCP e BE apresentaram moções de rejeição que foram reprovadas. O Orçamento de Estado, instrumento essencial para a governação, foi aprovado com a abstenção do PS e votos contra da restante oposição.
Em fevereiro começam a surgir na comunicação social notícias sobre questões patrimoniais e empresariais ligadas a Luís Montenegro, o primeiro-ministro. Sucedem-se notícias que colocam em causa a pessoa do primeiro-ministro, a legalidade de serviços prestados e os seus valores ético/morais.
A 21 de fevereiro o Parlamento rejeita a moção de censura do Chega, com voto contra do PS. A 27 de fevereiro o “Expresso” noticia que “Solverde paga €4500 por mês à empresa familiar de Luís Montenegro” que o primeiro-ministro nega.
A 1 de março Montenegro em declaração ao país, rodeado dos ministros, anuncia uma moção de confiança. A 6 de março a moção de censura do PC é rejeitada com a abstenção do PS.
A 10 de março o PS avança com requerimento para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a Luís Montenegro. A 11 de março o Parlamento rejeita a moção de confiança ao Governo.
Quero confiar no primeiro-ministro do meu país e nas suas decisões independentemente do meu voto. A democracia e os cargos têm exigências que têm de ser cumpridas.
Dúvidas de ilegalidades, abusos, benefícios, incumprimento de lei, desvios éticos e morais precisam de ser esclarecidos para que não haja dúvidas nas pessoas. A discussão da moção de confiança foi deprimente. Em cima da hora o convite para um encontro a dois ou o jogo de feira de tentar uma inaceitável CPI em versão minorca, que mau.
Precisamos de transparência e de entendimentos para resolver problemas. O que não quer explicar Montenegro? Tendo o governo condições para governar, porquê obrigar os portugueses a eleições neste momento?