A recente intensificação das atividades de prospeção de ouro no Alentejo, especialmente em áreas protegidas como Montemor-o-Novo e o Parque Natural do Vale do Guadiana, reacende uma discussão fundamental sobre o modelo de desenvolvimento que desejamos para a nossa região.
O subsolo alentejano, rico em metais preciosos, tem vindo a suscitar o interesse crescente de empresas mineiras nacionais e internacionais. A promessa é tentadora: desenvolvimento económico, criação de emprego e dinamização de zonas rurais frequentemente esquecidas pelas políticas públicas.
No entanto, é necessário questionar criticamente esta narrativa. A história da mineração em Portugal e no mundo mostra-nos um padrão preocupante: os benefícios económicos raramente permanecem nas comunidades locais, ao passo que os impactos ambientais negativos persistem durante gerações.
As atividades extrativas em áreas de elevado valor ecológico representam uma ameaça real à biodiversidade única do Alentejo. A contaminação dos solos e recursos hídricos, num território já vulnerável à seca e às alterações climáticas, pode ter consequências irreversíveis. De facto, como alertam organizações ambientais como a Quercus, os riscos incluem a destruição de habitats naturais e impactos negativos na qualidade de vida das populações.
É crucial reconhecer que o verdadeiro património do Alentejo não está enterrado no seu subsolo, mas manifesta-se na sua paisagem característica, na sua biodiversidade, no seu património cultural e no seu modo de vida único. A exploração mineira, mesmo quando alegadamente baseada nas melhores práticas, implica alterações profundas neste equilíbrio frágil.
As comunidades locais devem ser prota- gonistas, e não meras espectadoras, nas decisões sobre o futuro dos seus territórios. A experiência recente mostra-nos que os processos de consulta pública são frequentemente insuficientes, uma vez que são realizados após a tomada de decisões em gabinetes distantes das realidades locais.
Precisamos de um modelo de desenvolvimento para o Alentejo que valorize os seus re- cursos endógenos de forma sustentável, que aposte na agricultura biológica, no turismo responsável, nas energias renováveis e nas indústrias que não comprometam o carácter único da nossa região.
O debate sobre a exploração mineira no Alentejo não pode ser reduzido a uma escolha entre o ambiente e a economia. Trata-se, fundamentalmente, de uma discussão sobre que futuro queremos construir e que legado queremos deixar às gerações futuras.
O brilho do ouro pode ser tentador, mas não devemos permitir que nos ofusque a visão de um Alentejo sustentável, justo e próspero, onde o desenvolvimento económico não se faça à custa da degradação ambiental e da qualidade de vida das populações.