Maria do Céu Pires: “O extremo do horror e da miséria humana”

A opinião de Maria do Céu Pires, professora

Celebrou-se a 27 de janeiro (dia da libertação do campo de Auschwitz, em 1945) o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. E a pergunta que foi condutora da obra de Primo Levi (1) – “Como se constrói um monstro”? – continua, em 2025, mais atual do que nunca.

O nazismo e a chamada “solução final”, extermínio em câmaras de gás de milhões de seres humanos, apenas por apresentarem alguma diferença, foi um dos maiores pesadelos da História da Humanidade. Seis milhões de judeus, opositores políticos, deficientes, ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais foram considerados seres “inferiores” e, como tal, perseguidos e, finalmente, exterminados.

É difícil encontrar na História mais recente um exemplo de um Estado (Hitler foi eleito, é bom não esquecer) que se afirmasse tão bárbaro, infringindo, de forma absoluta, qualquer mínimo de respeito pelo ser humano. E a pergunta continua: como foi possível? E ainda: como é possível, passados 80 (só!) anos de História, existirem pessoas (algumas também eleitas) a defenderem posições do mesmo tipo, baseadas na ideia de que há seres inferiores, que nem sequer são dignos de viver?

Como tem sido comentado, estamos, de novo, a “descer aos infernos”, ou seja, à miséria moral e à falibilidade da nossa memória. E, hoje, sabemos que quem dirige os destinos do povo judeu comete os mesmos crimes de que este grupo foi vítima.

Por respeito às vítimas do Holocausto, é preciso condenar o novo genocídio, desta vez em Gaza, é preciso condenar a atuação desproporcional de Netanyahu e deixar de fornecer armas a Israel. Quem o não faz é também responsável pelo genocídio do século XXI. O cessar-fogo tem mesmo de ser levado a sério!

Assim, celebrar esta data tem hoje um sabor mais amargo, pois deparamo-nos com o ressurgir da “peste” e com a necessidade de a combater. Comecemos, então, por algum lado, pela nossa comunidade mais próxima, pelo nosso país. Não pactuemos com a discriminação de quem é diferente! Não pactuemos com a violência racista e xenófoba!

Como disse, em 2023, o nosso Presidente da República: é preciso fazer com que o “hediondo manto da intolerância nunca mais se abata sobre a Europa e o Mundo”. Conseguiremos?

(1) Escritor italiano (1919/1987), resistente antifascista, Primo Levi foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz em 1944. Notabilizou-se por vários livros onde relata a sua experiência de prisioneiro, nomeadamente a obra “Se isto é um homem”.

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