Mário de Braga andou por Cuba e regressou em versão “social club”

E depois do Brasil, do Japão, do Irão... Cuba. “Fado em Havana” é o novo projeto de Mário de Braga, o artista outrora conhecido como Mário Moita, fundador dos Seistetos, o primeiro grupo académico da Universidade de Évora. Regressou de Cuba... encantado.
Luís Godinho (texto)

Para este projeto do Mário, rapaz de mil e uma aventuras que já merecia o livro que um dia lhe irei escrever, foi crucial ter-se cruzado com Bárbaro Alberto Torres Delgado, Barbarito Torres para os amigos, nascido em 1956 em Matazanas, Cuba, tocador de laud, um instrumento de cordas da família do alaúde.

O Mário é uns 25 anos mais novo. Mas com Barbarito, deixem-me continuar com ele, já temos passado construído no “Buena Vista Social Club”, que começou por ser um grupo musical formado em 1996, alcançando fama mundial, dois anos depois, no documentário homónimo realizado por Wim Wenders.

Na ficha técnica do grupo, e do filme, lá estão Ry Cooder, Ibrahim Ferrer, Orlando ‘Cachaíto’ López, Omara Portuondo, Compay Segundo e Barbarito Torres, entre outros. Se me perdoarem a confissão, sempre digo que “El Cuarto de Tula” é o ponto alto do disco e do filme. “Se volvió loco Barbarito!”, exclamou Eliades Ochoa, impressionado com a execução musical do “nosso embaixador” em Havana.

Pois o Mário de Braga é o moço a quem começámos por chamar Mário Moita, um dos fundadores dos Seistetos, grupo académico da Universidade de Évora – “honesta açorda com muito bacalhau misturado” -, nesse já longínquo ano de 1992. Começou por aí e andou a desbravar caminho, no que à música diz respeito. Ainda há dias, em Reguengos de Monsaraz, antes de viajar para Florianópolis (Brasil), onde também vive, confessava não saber se o deixam entrar nos Estados Unidos pois há bem pouco tempo andou a tocar pelo Irão.

Bom, para compreendermos este seu novo projeto, “Fado em Havana”, teremos de recuar 15 anos, precisamente à altura em que conheceu Barbarito Torres. “Fizemos um concerto – [na verdade, o Mário diz show, talvez seja Brasil a mais] – no mesmo festival, a Virada Cultura, em São Paulo, e tínhamos o mesmo produtor”. Trocaram contactos, cimentaram a amizade, e aos poucos foram pensando na possibilidade de criar “qualquer coisa” em conjunto.

A malta do “Buena Vista” andou por aí, em sucessivas digressões mundiais, voltaram a encontrar-se, conheceu músicos “mais novos” como o engenheiro de som Orestes Águila, “foi ele quem gravou quase todos os CD’s” do Buena Vista, depois o contrabaixista Gastão Joia convidou-a a passar por Cuba, levou Jorge Silva, “um dos maiores da guitarra portuguesa, que é alentejano e que me acompanha há muitos anos pelo mundo”, e por lá ficaram três semanas. Daí surgiu “Fado em Havana”, fusão de música cubana com fado, projeto artístico que lhe diz muito, desde logo porque sempre cantou em espanhol, terra da sua avó paterna.

Conta Mário de Braga que também escreveu alguns boleros, “todos com guitarra portuguesa e alguns com o alaúde”, do Barbito, claro. “E tive também o privilégio de fazer um dueto com a Omara Portuondo, que já soma 93 anos. Cantei um tema com ela”, conta o músico alentejano, confessando estar “muito entusiasmado” com este projeto, desde logo por lhe permitir “abrir outros horizontes e navegar por outros mares”, por onde ainda não se tinha aventurado.

Do espetáculo há videos já gravados e a promessa de uma digressão no próximo verão. Mas de que falamos quando falamos de “Fado em Havana”? Fica a apresentação: “O espetáculo conta com o Gastão Joia Cubano Quartet e com a guitarra portuguesa, a percussão e o nosso mestre a tocar contrabaixo cubano, além de alguns convidados… a voz é a minha, arriscamos também algum fado ao piano, mas de- pois voltamos aos sons de Cuba”, explica.

Segundo Mário de Braga, a apresentação do projeto a convite do Instituto Cubano de Música teve uma “reação fantástica” do público, num concerto que foi gravado pela Cubavisión, o principal canal televisivo do país, e que deverá ser transmitido em breve. “O disco também está pronto , depois andaremos por aí, já há um espetáculo agendado para agosto, em Reguengos de Monsaraz, que marcará o arranque de uma digressão internacional”, conta o músico, garantindo que quem ouviu não estranhou, entranhou. “O público em Havana ficou maravilhado com a sonoridade nova que este projeto deu às músicas cubanas, também com os fados em bolero”.

Sobre a experiência de cantar com os membros do Buena Vista Social Club, confessa ser uma “grande responsabilidade”, que ao mesmo tempo lhe permite “partilhar a alegria contagiante” que pudemos testemunhar no documentário de Wim Wenders. “Quanto maior é o artista, mais simples ele é no dia-a-dia, e isso dá-nos uma grande tranquilidade para estar ao melhor nível”. É mesmo.

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