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Na cerâmica de Cristina Claro respira-se o Alentejo

Descobriu a cerâmica de forma “muito acidental”, aprendeu-lhe as técnicas, tomou-lhe o gosto. As paisagens alentejanas e as cores fortes são apostas de Cristina Claro.

Luís Godinho (texto e fotografia)

“Isto começou de uma forma muito acidental”. É Cristina Claro que o diz. Por “isto” entenda-se o trabalho artístico em cerâmica, a aprendizagem da técnica, a aposta num trabalho criativo permanentemente marcado pela vontade de trilhar novos rumos. E, já agora, por “acidental” explique-se que a artista não tinha ninguém na família, nenhuma influência que a levasse a ponderar moldar, cozer e pintar peças de barro. “Não tive nada disso”.

Sucede que, em certa ocasião, ei-la em casa de amigos e eis que essa amiga pintava azulejos. “Aquilo desassossegou-me”, recorda. Um “desassossego” tão grande que a levou não apenas a querer experimentar, mas querer fazê-lo de forma profissional, pelo que foi necessário a aprendizagem das técnicas básicas. A sua “escola primária” acabou por ser feita no curso de pintura e decoração de cerâmica do Centro de Formação de Reguengos de Monsaraz. “Foi ai que aprendi o bê-á-bá da cerâmica tradicional do Alentejo. Fiquei totalmente fascinada. Pronto, disse para mim, é isto, gosto mesmo”. 

Ao curso somaram-se ‘workshops’, desafios artísticos, um impulso criador que lhe permitiu traçar um caminho. “No início”, recorda, “pintava aquela louça tradicional alentejana, com os temas tradicionais, como a azeitona, as uvas, depois, a pouco e pouco, fui criando a minha linha artística, ainda que com um foco regional, experimentando outras técnicas”.

Em matéria de cerâmica, como de vida, Cristina Claro assegura que “quanto mais se sabe, mais se sabe que há muito para aprender”. E sim, a vontade de descoberta transformou-se em paixão. “Ou em vício, sei lá”.

A paisagem alentejana é uma das suas imagens de marca, tal como a flora, das papoilas aos malmequeres ou às estevas. “Ando muito à volta desses temas”. Desses e de outros, como as frutas. Vencido o “desafio” de transpor as romãs para peças de cerâmica, anda por estes dias à volta com as laranjas. É preciso fazer, experimentar, errar, insistir, antes de chegar ao resultado que idealizou. “Bom, a verdade é que quando acabo de fazer uma coisa já me apetece fazer outra, alterar e mudar, já estou a pensar que da próxima vez será diferente. No fundo, isto é uma evolução constante”.

É numa pequena loja, paredes-meias com o ateliê, no Largo Mariano Presado, que a conversa decorre, por entre peças em exposição, sendo que as de grande dimensão constituem uma aposta recente, os cogumelos são uma das suas formas de eleição, e se as tintas vermelhas ou amarelas são outra das suas marcas distintivas, também por lá se encontram peças a branco, uma descoberta mais recente.

Que “isto é tudo uma evolução” já nos havia garantido Cristina Claro, aproveitando agora para explicar que isto da cerâmico é todo um universo. “Temos a modelação, a pintura, a azulejaria, e eu não me consigo fixar só numa área, só numa técnica, a minha curiosidade leva-me a experimentar tudo e mais alguma coisa”. E a cruzar elementos. À pintura de azulejos com paisagens, ou com inspiração no cante alentejano, começou a juntar madeira, a emoldurar o trabalho, transformando a peça cerâmica num quadro. “Por agora sinto-me satisfeita, mas não sei por quanto tempo, daqui a uns meses ou a uns anos já estarei a fazer outra coisa, a conciliar outras técnicas”.

Depois, bom, depois tem ainda os vidrados e a “magia”, ou se quisermos a “alquimia”, que se processa num forno a temperaturas que podem chegar aos mil graus centígrados. “O forno”, assegura, “manda tanto quanto eu, é por isso que se diz que a cerâmica é a arte do fogo. Fazemos uma peça da mesma forma que outra, com o mesmo programa de cozedura, e o resultado final é diferente. Abrir o forno é sempre um momento mágico”.

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